O governo brasileiro precisa agir para que a “guerra econômica” entre os Estados Unidos e a China não atrase a implantação da rede de comunicações 5G no Brasil. A quinta geração de tecnologia móvel permitirá uma revolução em todos os setores – comércio, indústria, transportes, educação, saúde, moradia e comunicação entre pessoas, empresas, instituições e governos. Países que ficarem para trás certamente vão amargar um atraso histórico no desenvolvimento econômico e social.
Causa estranheza a lentidão com que o governo do presidente Jair Bolsonaro vem tratando do tema, crucial para o desenvolvimento do país no futuro próximo. Nesta semana, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que a decisão sobre quem vai participar no fornecimento de tecnologia 5G ao Brasil deve ficar para 2021 e classificou o assunto como "altamente complexo". Afirmou ainda que é um equívoco “ficar antecipando”.
É importante o ministro fazer um retrospecto. Não se trata de antecipação. A definição sobre a tecnologia 5G era para ter sido tomada em 2019, depois foi adiada para o primeiro semestre deste ano e, agora, o governo vai empurrar para o próximo ano.
O argumento apresentado para o adiamento é a pandemia de covid-19, mas a principal causa é a “guerra econômica” entre Estados Unidos e China. O governo brasileiro, aliado do governo Donald Trump, ficou em “saia justa” depois que os EUA anunciaram bloqueio total à tecnologia 5G da gigante Huawei e ameaça sancionar países aliados que abrirem seus sistemas à empresa chinesa.
É normal que os países adotem estratégias no jogo da economia internacional, mas é altamente prejudicial ao Brasil o retardamento da implantação do 5G em decorrência da disputa internacional entre EUA e China.
São muitas as questões a serem postas na mesa diante das ameaças do governo Trump. Os EUA garantem tecnologia a preços competitivos e investimentos necessários para a implantação da rede 5G brasileira? Os EUA garantem agilidade na implantação para que o Brasil não fique atrasado em relação à maioria dos países desenvolvidos. Os EUA garantem que, caso o Brasil exclua a Huawei, outras empresas vão fazer transferência de tecnologia? Quais as consequências para a economia brasileira de um veto aos chineses, hoje maiores parceiros comerciais do Brasil?
A ‘guerra 5G’
Um dos principais argumentos dos EUA para vetar a Huawei é a ameaça de espionagem pelo governo da China. Em que pese a empresa estar intimamente ligada ao Estado chinês, deve-se levar em consideração que denúncias de facilitação de espionagem ao governo norte-americano por parte de empresas dos EUA se multiplicaram nos últimos anos.
Em 2013, por exemplo, estourou o escândalo do programa de vigilância governamental norte-americano conhecido como Prisma. Gigantes de tecnologia, como Google, Apple, Yahoo, Microsoft e Facebook foram envolvidas nas denúncias por terem, supostamente, colaborado com a espionagem. As companhias negam participação no esquema.
No Brasil e em muitos outros países a Huawei está tão enraizada que não há mais como falar em ameaça da empresa à segurança tecnológica. Há 22 anos em território brasileiro, a multinacional chinesa é líder no mercado nacional de banda larga fixa e móvel por meio das parcerias estabelecidas com as principais operadoras de telecomunicações – Claro, Oi, Tim, Vivo. Possui duas fábricas – uma em Manaus e outra em Sorocaba (SP) – e planeja uma terceira, para produção de celulares, com investimentos previstos de US$ 800 milhões.
Números da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que, das cerca de 86 mil antenas de rádio em operação no país, 70 mil utilizam equipamentos da Huawei nas tecnologias 2G, 3G e 4G.
Outra questão a ser levada em consideração é o atraso, neste momento, dos Estados Unidos no quesito 5G. Líder global em soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), a Huawei está presente em mais de 170 países. Grande parte dos especialistas mundiais afirmam que a empresa chinesa tem condições de oferecer a tecnologia para implantação do 5G mais rapidamente que os concorrentes, de melhor qualidade e a custos bem inferiores.
A exclusão da gigante chinesa, além de provocar atraso na implantação do 5G no Brasil, poderá acarretar em serviços mais caros aos usuários e concentração de mercado nas mãos de outras empresas sem a garantia de que os produtos e equipamentos serão mais eficientes.
O número de empresas que oferecem tecnologia 5G tem aumentado ultimamente. Além da Huawei, que lidera a corrida, estão na raia Altiostar, Cisco Systems, Datang Telecom, Ericsson, Nokia, Qualcomm, Samsung e ZTE.
A melhor estratégia para o Brasil nesta disputa é promover a concorrência. Ganhará mais espaço no país quem oferecer produtos e serviços melhores e mais baratos. E colocar como prioridade a transferência de tecnologia. O país não pode restringir suas possibilidades para atender apelos ideológicos ou ser vítima da ‘guerra econômica’ entre EUA e China.
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