O produto interno bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre de 2021 teve queda de 0,1%. A taxa de desemprego, apesar de uma recuperação ínfima de 0,6 ponto percentual no mesmo período, se mantém acima de 14%, contra pouco mais de 7% na zona do Euro e 5,2% nos EUA. A produção industrial caiu 1,3% em julho e voltou a ficar abaixo do patamar pré-pandemia. A inflação acumulada em 12 meses, medida pelo IPCA, chegou a 8,99% em julho e deve ultrapassar os 9% em agosto.
Esses são apenas alguns dos vários indicadores econômicos e sociais que retratam a realidade do Brasil às vésperas do 7 de Setembro, Dia da Independência. Com esse cenário, para muitos brasileiros não existe motivo para comemorações.
Os preços da maioria dos produtos e serviços dispararam, a conta de energia foi às alturas em decorrência da crise hídrica e as previsões de crescimento da economia para 2022 vêm caindo – o banco Itaú prevê que o crescimento no próximo ano caia para apenas 1,5%.
Além das dificuldades em acelerar a recuperação econômica – das 30 maiores economias acompanhadas pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE), o Brasil foi o único que não cresceu no segundo trimestre de 2021 –, o país sucumbe a cada dia em um cenário de crise política-institucional.
O feriado deste 7 de setembro, em vez de servir para um momento de o país se confirmar como nação independente, transformou-se em um cenário de conflito, com ameaças à democracia e pouca esperança de o país sair do atoleiro.
A crise hídrica, além causar sofrimento à população – moradores de algumas cidades, como Curitiba, sofrem com racionamento de água há mais de um ano –, eleva o risco de agravamento da situação econômica. A gestora de investimentos Rio Bravo, em relatório divulgado em agosto, observa que “a crise hídrica não é um risco somente para a inflação, mas também para o crescimento econômico em 2022”.
O resultado da tensão nas ruas é o isolamento ainda maior do Brasil no cenário internacional e a fuga de investimentos. A comprovação desse fato está nas recomendações de alguns governos para que seus cidadãos que vivem no Brasil fiquem em alerta. A embaixada dos EUA, por exemplo, emitiu comunicado alertando os cidadãos americanos sobre o risco de confrontos nos protestos programados para o dia 7 de setembro.
O economista André Lara Resende, um dos arquitetos do Plano Real e presidente do Banco Central durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo nesta segunda-feira (06), atribuiu o péssimo desempenho econômico e social do Brasil no momento aos caos institucional e à instabilidade política. "O que leva à perda de controle sobre as expectativas é a desorganização institucional e a perda de legitimidade do Estado. É o Estado patrimonialista, dirigido por políticos demagógicos e incompetentes, que solapa a confiança na moeda nacional", afirmou.
A crise institucional, a tensão nas ruas e as incertezas não afastam apenas os investimentos externos. O futuro do acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, que já vinha enfrentando resistência de países europeus diante dos recordes de devastação da Amazônia, está ficando cada vez mais distante em meio à instabilidade política no Brasil.
O clima de conflito e de hostilidades, alimentado por atores do governo e alguns setores da sociedade brasileira, não contribui para o Brasil sair da crise. A percepção que se tem interna e externamente é que o país mergulhou no caos no momento em que deveria estar pronto para aproveitar os avanços do controle da pandemia em todo o mundo.
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