As investigações de denúncias envolvendo autoridades no Brasil têm e sempre tiveram tratamento diferentes. Um exemplo claro dessa prática pode ser observado nos casos envolvendo um sítio em Atibaia, ligado ao ex-presidente Lula, e uma fazenda em Duartina, ligada ao vice-presidente da República, Michel Temer.
A história do sítio em Atibaia foi amplamente divulgada na grande mídia, com um vasto material informativo fornecido pela Operação Lava Jato. Oficialmente, a propriedade pertence a Fernando Bittar e Jonas Suassuna, mas a Polícia Federal afirma que existem indícios em escutas telefônicas e também em documentos apreendidos no apartamento do ex-presidente de que o sítio de Atibaia (SP) é da família Lula.
Quando à fazenda em Duartina, apensar das denúncias públicas de suposta ligação da propriedade com Temer, não existe nenhuma investigação. O Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça não deram nenhuma declaração até agora sobre as acusações que pesam contra o vice-presidente.
Um grupo de famílias de trabalhadores sem-terra invadiu a fazenda na segunda-feira (9) e diz ter encontrado na propriedade uma correspondência endereçada ao vice-presidente, Michel Temer (PMDB).
A correspondência estava na varanda da propriedade rural, localizada em Duartina, nas proximidades de Bauru (SP), segundo os sem-terra.
O MST afirma que a fazenda Esmeralda, de 1.500 hectares, tem ligações com o peemedebista. O vice-presidente nega. Cerca de mil famílias estão acampadas no local, segundo o movimento.
Moradores da cidade declararam a vários jornalistas que a propriedade é conhecida por todos na região como “a fazenda do Temer”.
De acordo com os trabalhadores sem-terra, a correspondência é mais um elo de Temer com a propriedade. A propriedade está no nome do coronel João Batista Lima Filho – conhecido como coronel Lima –, mas, para o MST, o vice-presidente é o verdadeiro dono.
Na Lava Jato, um delator da Engevix falou, em delação premiada, que “através de Lima repassou R$ 1 milhão como apoio de campanha para suprir interesses de Michel Temer.”
O documento achado pelos sem-terra trata-se de um envelope com timbre da prefeitura local. No envelope está manuscrito ao “Dr Michel Temer”. Há ainda a observação “Enio (prefeito)”, o que remete a Enio Simão (PSDB), prefeito de Duartina.
O conteúdo do envelope é um pedido de reexame de contas da prefeitura no TCE (Tribunal de Contas do Estado).
Ao jornal Folha de São Paulo, o prefeito Simão disse não se lembrar do envelope, mas admitiu que já participou de um evento com Temer na fazenda, durante a campanha eleitoral de 2010.
“A única vez que o encontrei [na fazenda] foi quando ele [Temer] foi recebido com um café. Eu estava lá”, disse o prefeito à Folha.
“[Sobre a correspondência] Não me recordo, não lembro agora. Quando quero falar com ele é direto com São Paulo”, explicou o prefeito ao jornal.
Em nota à Folha, a assessoria do vice-presidente afirmou que Temer não tem propriedades rurais. “Não é dono de fazenda em Duartina.”
O coronel João Batista Lima Filho disse que “as propriedades rurais em questão foram adquiridas de maneira regular, a partir de 1986”.