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Alex, o menino pobre que comia a bola

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Ainda hoje, quando vejo o Alex jogando eu recordo daquela tarde no início dos anos de 1990 quando o menino ainda conhecido pelo apelido de Pachequinho veio à redação da Gazeta do Povo. Nós trabalhávamos numa sala de frente para a Praça Carlos Gomes e, dias antes, eu havia prometido para ele umas fotos.

O menino pobre que sonhava ser um craque brasileiro queria montar seu “book”. Naquele tempo a internet não passava de um embrião. Muitos jogadores compunham seu álbum com fotos de jornais e revistas, um registro importante para a carreira.

Desde a primeira vez que vi o Alex jogando nas equipes de base do Coritiba me convenci de que ele se destacaria no cenário nacional. E não era só eu. Todos os jornalistas e radialistas esportivos da época tinham a mesma opinião.
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A bola parecia que grudava nos pés dele. Em jogadas dentro da área Alex era, sem dúvida, o melhor do Brasil. Isso era fruto dos anos que passou nas equipes de futsal da AABB, a associação dos funcionários do Banco do Brasil. O futebol de salão deu a ele o drible curto, seco, desconcertante, com a bola colada.

Quando o jovem craque se transformou num dos principais jogadores do time profissional do Coxa eu não me conformava com o baixo salário que ele recebia. Muitos veteranos eram contratados ganhando cinco, seis vezes mais. Mas no campo, quem realmente dava resultado era o Alex.

A primeira grande demonstração de que, além de craque, o menino humilde seria um cara decente foi quando juntou as primeiras economias do futebol e comprou uma casa para sua mãe. Era assim: enquanto muitos jogadores compravam carrões, ele usava ônibus para dar um pouco de conforto para a família. Enfrentava a poeira das ruas sem asfalto, sem esgoto. Seu destino poderia ter sido o de muitos meninos do bairro. Mas escolheu um caminho distante da delinquência e da violência para levar comida para casa.

Não ficou nem dois anos como profissional do Coxa – de 1995 a 1997. Logo o clube o vendeu para o Palmeiras para fazer dinheiro.

Depois de sua ida para o Verdão paulista eu fui trabalhar em outras áreas do jornalismo. Mas, mesmo escrevendo sobre política, assuntos gerais ou internacional, sempre dava uma espiada como andava o pupilo pelos campos afora.

E não foram poucas as conquistas de Alex: Libertadores, Copa Mercosul, Copa do Brasil, Campeonato Turco, Supercopa da Turquia, Copa da Turquia, Campeonato Paranaense, Campeonato Brasileiro e Copa América só para citar algumas.

A lista de títulos individuais é extensa e a história é tão longa que merece um livro.
O que faltou? Faltou um título de Copa do Mundo, diriam alguns. Eu penso que não é necessário [sem falar das injustiças do futebol, profissão que, como jornalismo, música, teatro, literatura, está repleta de injustiças]. Se Alex tivesse tido chance de disputar um Mundial poderia ter levado o Brasil mais uma vez ao topo.

Mas não perdeu nada com isso. Autoditada, bem informado e culto, Alex ainda tem futebol, mas também deverá dar uma contribuição importante para o país quando pendurar as chuteiras.

Alex quando se tornou profissional do Coxa, em foto de Joao Bruschz.

Alex quando se tornou profissional do Coxa, em foto de Joao Bruschz.

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