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Alta da inflação
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O Banco Central (BC) informou na última quarta-feira (24) que subiu de 5% para 5,8% sua estimativa de inflação para o ano de 2021, com base no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A previsão do BC pode ser considerada otimista quando comparada com os números registrados nos últimos 12 meses, em que a alta da inflação se manteve constante e atingiu nível próximo ao registrado na eclosão da crise de 2015.

A escalada inflacionária é facilmente verificada com uma rápida passada pelos números oficiais. Em maio passado, o IPCA, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ficou em 0,83%. Foi a maior alta para um mês de maio em 25 anos. Com isso, o acumulado dos últimos 12 meses atingiu 8,06%.

Alta da inflação
Acumulado do IPCA em 12 meses é o maior deste a crise de 2015.

Mas não parou aí. Agora em junho, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), que é uma prévia da inflação oficial, ficou em 0,83%, conforme divulgado na sexta-feira (25) pelo IBGE. Com essa prévia, o acumulado da inflação em 12 meses chega a 8,13%.

A essa altura do campeonato, a proposta inicial do governo para 2021, de ficar no centro da meta de inflação, de 3,75%, já se tornou impossível de ser atingida. E o teto previsto de 5,25% também está praticamente fora da realidade. O próprio Banco Central admite que a probabilidade de a inflação superar o teto de 5,25% para este ano passou de 41%, em março de 2021, para 74% no documento divulgado na quarta-feira (24).

Entre os economistas, há quem considere alarmante a escalada inflacionária no Brasil. Marcos Lisboa, doutor em economia pela Universidade da Pensilvânia e atual presidente do Insper Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper”, é um deles. Em entrevista à revista Veja na semana passada, ele chamou atenção para as diferenças da recuperação econômica do Brasil com o resto do mundo. “A nossa diferença é que estarmos nos recuperando, mas com a inflação destoando, um problema grave e diferente dos de outros países”, avalia.

André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), não vê possibilidade de a inflação ceder no curtíssimo prazo. “Essa inflação não é passageira. Se fosse, o BC não tinha começado a elevar juros já agora, ainda no meio da crise econômica provocada pela pandemia. Temos matérias-primas subindo 70%, e não há como evitar que boa parte desses aumentos chegue ao varejo e de forma mais espalhada. Não temos uma inflação de demanda, mas de custos, e isso dificulta o trabalho do BC”, declarou ele ao portal UOL no último dia 22 de maio.

O economista André Braz se refere às seguidas altas da taxa de juros anunciadas pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) recentemente.  No último dia 16 de junho, a Selic passou de 3,50% para 4,25% ao ano. Foi a primeira vez desde 2015 que o Copom aumentou a Selic em três reuniões seguidas. O novo acréscimo foi de 0,75 ponto percentual.

Os prognósticos de permanência do ciclo inflacionário são compartilhados até pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Na sexta-feira (25), ele disse que a crise hídrica é um desafio “seríssimo” que levará ao aumento da inflação no curto prazo.

“O ministro Bento [Albuquerque, de Minas e Energia] nos garante que racionamento não haverá, que ele vai conseguir prover [energia] pelo menos para que não haja racionamento. Mas há o outro lado, que é o impacto, a inflação. Subiu o custo da energia, tudo isso. Nós reconhecemos: é um desafio seríssimo, é um impacto inflacionário”, declarou Guedes em audiência na comissão do Senado que acompanha as ações do governo no combate à pandemia.

A taxa de juros é uma das principais armas utilizadas para controlar a inflação. Tanto que o BC indicou que deve promover um novo aumento de 0,75 ponto percentual no começo de agosto, o que levaria a Selic para 5% ao ano. E a instituição deixou a portar aberta para um aumento maior.

época da  hiperinflação
Inflação mensal acima de 30% era 'normal' entre os anos de 1989 e 1994.

Resta saber se a alta da taxa de juros será suficiente para segurar o ‘mostro’ da inflação que ameaça escapar do controle. Qualquer brasileiro com mais de 30/40 anos sabe como é difícil enfrentar esse ‘monstro’ quando ele está solto.

Do início dos anos de 1980 a meados da década de 1990, raramente a inflação anual ficou abaixo de 100%. Em alguns anos superou os 2.000%, como, por exemplo, em 1993, quando atingiu o índice absurdo de 2.477,15%.

Em junho de 1994, às vésperas do Plano Real, a inflação em 30 dias chegou a 47,43%. Isso significava 1,5% de inflação por dia. Numa ilustração simples, o que você comprava hoje com R$ 100, amanhã custava R$ 101,50. Se deixasse para comprar uma semana depois, certamente já estaria custando mais de R$ 110.

Como sempre, quem tinha recursos se protegia no mercado financeiro, no chamado overnight, operação financeira feita diariamente por bancos no mercado aberto. Os assalariados, mesmo passando a ter reajustes mensais, não tinham como se proteger. Já recebiam o salário corroído em mais de 30% do seu poder de compra. E eram obrigados a gastar tudo num único dia para não perder ainda mais.

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