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Certas Palavras

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Imprensa

Ameaças e boicote ao jornalismo são graves atentados à democracia

Capa do jornal Washington Post, que revelou o caso Watergate. (Foto: Reprodução/The Washington Post)

Nenhuma democracia sobrevive sem jornalismo independente. No Brasil e em qualquer parte do mundo, o trabalho dos jornalistas foi e continua sendo decisivo para a garantia dos direitos de cidadania. Nas sociedades democráticas, coube ao jornalismo a fiscalização das organizações, seus agentes públicos e privados. Ao fornecer informações seguras às pessoas os jornalistas contribuem decisivamente para a proteção do interesse público. Também é atribuição do jornalismo servir de fórum de debates de ideias e um espaço de crítica.

Na história recente são muitos os momentos em que a imprensa teve papel fundamental para informar e proteger a sociedade. Um exemplo desses momentos foi o caso Watergate, escândalo político ocorrido em 1974 nos Estados Unidos que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, do Partido Republicano. As revelações das ilegalidades do governo Nixon contra o Partido Democrata só tornaram de conhecimento público graças ao incansável trabalho de dois repórteres do jornal Washington Post, Bob Woodward e Carl Bernstein.

""Revelações da imprensa contribuíram para desvendar desvios do governo Collor. (Foto: Reprodução/FSP)

Pulando da década de 1970 para os anos de 1990, no Brasil os jornalistas tiveram papel importante na revelação do escândalo que acabou com a saída de Fernando Collor da Presidência da República. Mais recentemente, em 2010, uma série de reportagens da Gazeta do Povo e da Rede Paranaense de Comunicação (RPC), intitulada Diários Secretos, revelou um grande esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná. As reportagens foram merecedoras do Prêmio Esso nacional, um dos mais importantes do jornalismo brasileiro.

Por ser responsável pelo papel de guardião da sociedade, o jornalismo sempre sofreu ataques de poderosos na tentativa de manter seus privilégios, esconder irregularidades ou se perpetuar no poder. Recentemente, no entanto, o ataque a essa atividade imprescindível à sobrevivência da democracia ganhou proporções só registradas em tristes períodos da história brasileira.

O governo Bolsonaro ataca publicamente o trabalho realizado por jornalistas de emissoras de televisão, jornais e revistas para impedir a livre circulação de informações tão necessárias aos cidadãos. Ameaças de não renovação de concessões de TV, o cancelamento de assinaturas de jornais e as ações para tentar desqualificar o trabalho ético e profissional de jornalistas são apenas uma face das ações governamentais para tentar sufocar o jornalismo e restringir o acesso de informações, o que configura claramente um atentado à liberdade de imprensa consagrado na Constituição. Os ataques também afetam o direito de trabalho dos jornalistas.

""Série Diários Secretos, da Gazeta do Povo, desvendou esquema de corrupção na Assembleia Legislativa do Paraná. (Foto: Reprodução/Gazeta do Povo)

Essa ofensiva antidemocrática do governo lamentavelmente ganhou aliados nos últimos dias. Empresas privadas com dirigentes simpatizantes de Bolsonaro passaram a vetar anúncios publicitários em jornais e programas de televisão. O boicote demonstra indícios de uma ação coordenada entre governo e determinadas empresas para impedir que informações importantes cheguem às pessoas.

Toda empresa privada tem o direito de anunciar nos veículos de comunicação e programas que bem pretender. Quando essa decisão, no entanto, é tomada com o intuito de dificultar a divulgação de informações e em defesa de um determinado agrupamento político, essa ação se caracteriza grave atentado à democracia. Representa uma iniciativa antiética na tentativa de impedir as pessoas de terem acesso a informações, o que abre caminho para a manipulação e o privilégio a grupos políticos partidários.

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