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Certas Palavras

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Pandemia

Grupos antivacina inflam movimentos contra o isolamento social

Integrantes de grupos antivacina engrossam movimentos contra o isolamento social
Protesto em Sacramento, Califórnia. (Foto: Divulgação/Freedom Angels Foundation)

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Com a dura realidade imposta pela pandemia do novo coronavírus, cientistas e autoridades de vários países levantaram a hipótese de que grupos antivacina no mundo perderiam seguidores. Afinal, argumentos como 'vacinas são uma fraude' ou 'vírus não existem' perderam força diante da disseminação da covid-19, doença causada pelo Sars-Cov-2, um vírus que até o momento resistiu a todos os medicamentos testados contra ele.

A tese do enfraquecimento do pessoal que defende a não vacinação durou pouco. Grupos contra as vacinas em vários países adotaram nova estratégia de ação e passaram a impulsionar movimentos a favor do fim das medidas de quarentena. E mais: diante das evidências científicas de que o novo coronavírus só será barrado por uma vacina, esses grupos estão atuando para distorcer informações, conforme constatou estudo do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP).

No Estados Unidos, muitos líderes de protestos contra vacinas agora estão liderando manifestações a favor da reabertura dos negócios e o fim do isolamento social. No último dia 2, por exemplo, grande parte dos participantes de um protesto em Sacramento, capital da Califórnia, não era de comerciantes, mas sim de integrantes da Freedom Angels Foundation, conhecida por suas posições contra as medidas do Estado para vacinação. O mesmo ocorreu em manifestações em Nova York, Colorado e Texas.

O discurso antivacina foi rapidamente mudado para a defesa da liberdade. Para esses grupos, a quarentena é uma imposição dos governos para acabar com as liberdades individuais. "Pelo fim da tirania" era uma das frases estampadas em cartazes no protesto de Sacramento.

Além dos grupos que há anos lutam contra as vacinas nos Estados Unidos, o levante agora reuniu ativistas do Tea Party – movimento conservador aglutinado no Partido Republicano –, grupos de milícias armadas e manifestantes com bandeiras da Confederação (movimento dos estados do Sul que deu origem à Guerra Civil Americana, em 1861).

Milícias armadas e grupos antivacina reforçam movimentos contra o isolamento social nos EUAMilícias armadas reforçam protesto contra o isolamento social no Michigan, EUA. (Foto: Reprodução/Twitter)

Até o bilionário fundador da Microsoft, Bill Gates – que financia pesquisas para produção de uma vacina contra coronavírus –, é alvo dos ativistas antivacina. O QAnon, grupo de teóricos da conspiração, acusa Gates de estar por trás da criação e disseminação do novo vírus como um meio de controlar o mundo.

Larry Cook, influenciador antivacina que administra uma página do Facebook chamada Stop Mandatory Vaccination (Pare a Vacina Obrigatória), alardeia que bloqueios e distanciamento social são uma maneira de tornar mais fácil para o governo rastrear pessoas e exigir que eles sejam testados para o vírus. "Esse bloqueio e distanciamento social são uma guerra psicológica e econômica contra nós para que aceitemos a vacinação obrigatória", escreveu.

Na Europa, cientistas e autoridades de saúde temem que, mesmo após o desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus, os movimentos antivacina possam levar as pessoas a não se vacinarem. Com isso, poderia haver o ressurgimento do surto mortal de coronavírus e outros semelhantes nos próximos anos.

No mês passado, o tenista número 1 do mundo, Novak Djokovic, causou polêmica com comentários sugerindo que ele teria uma decisão difícil de tomar se a vacinação contra o coronavírus se tornasse obrigatória para competir no circuito de tênis.

Uma pesquisa de 2018 da Wellcome Trust sobre atitudes em relação às vacinas em todo o mundo constatou que oito em cada 10 pessoas (79%) concordam certa ou fortemente que as vacinas são seguras, enquanto 7% discordam certa ou fortemente.

Ação de grupos brasileiros antivacina

Publicações na internet de grupos antivacina do Brasil abordam MMS na cura da covid-19, substância que pode levar à morte, segundo a FDA, agência reguladora de medicamentos e alimentos dos EUA.

No Brasil, pesquisadores da USP, integrantes da União Pró-Vacina, analisaram 213 postagens feitas entre 15 e 21 de março nos dois maiores grupos públicos brasileiros de conteúdo antivacina no Facebook, “O Lado Obscuro das Vacinas” e “Vacinas: O Maior Crime da História”. O levantamento verificou que os métodos mais usados são distorcer conteúdo científico e jornalístico, espalhar teorias da conspiração e até oferecer falsas curas usando produtos conhecidamente tóxicos para a saúde humana.

“O conteúdo das postagens é preocupante: 78,4% apresentam sérios problemas, como a disseminação de teorias da conspiração, utilização de informações falsas e de afirmações sem evidências, a distorção de informações confiáveis, a sugestão de uso e até a comercialização de produtos e tratamentos que não possuem comprovação científica ou aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)”, relataram os pesquisadores.

Uma das postagens com maior envolvimento, segundo levantamento, aborda o uso de uma substância conhecida como MMS (Mineral Miracle Solution, ou solução mineral milagrosa, em português) na cura da Covid-19. Composto por dióxido de cloro, o produto é semelhante à água sanitária. Segundo os médicos, sua ingestão pode causar lesões no intestino, vômito, diarréia, desidratação, insuficiência renal, anemia, entre outros problemas de saúde graves.

O grupo “O lado obscuro das Vacinas” contesta os dados e diz que raramente tem feito postagem sobre a covid-19.

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