Depois de dois anos em queda, taxa de mortes violentas intencionais volta a crescer.| Foto:
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O aumento de 4% das mortes violentas intencionais em 2020, interrompendo uma sequência de dois anos de queda nos números, coincide com a alta na posse de armamentos registrada no mesmo período. Dados do 15º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta quinta-feira (15), mostram que no ano passado foram 50.033 vítimas, 78% delas mortas com armas de fogo. Ao mesmo tempo, foram registradas 186.071 novas armas, um aumento de 97,1% em relação ao ano anterior.

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São consideradas mortes violentas intencionais o homicídio doloso, a lesão corporal seguida de morte, o latrocínio, o feminicídio e as mortes decorrentes de intervenção policial. Os homicídios dolosos representam 83% do total das mortes violentas intencionais em 2020, com aumento de 5,3% na comparação com 2019.

País tem mais armas de fogo circulando.
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A alta é um retrocesso na luta contra a violência, considerando que nos dois últimos anos o país sinalizava melhora. Em 2017, o Brasil atingiu um recorde de assassinatos e a taxa chegou a 30,9 mortes para cada 100 mil habitantes. O índice caiu em 2018 e 2019, quando recuou para 22,7 por 100 mil habitantes. No ano passado a taxa pulou para 23,6 por 100 mil.

O relatório mostra ainda que, inversamente, houve redução significativa do total de vítimas de crimes patrimoniais: 26,9% no número de roubos de veículos, 27,1% de roubo a estabelecimento comercial, 16,6% de roubo à residência, 36,2% nos casos de roubos a pedestres e 25,4% em roubo de carga. De acordo com os pesquisadores, um dos motivos para a redução das taxas dos crimes patrimoniais são as medidas de isolamento e distanciamento social decorrentes da pandemia de Covid-19.

Estados do Nordeste registram maior alta nas mortes violentas intencionais.

Além da maior quantidade de armas de fogo nas mãos das pessoas, outras hipóteses para as causas do aumento das mortes violentas intencionais, especialmente de crimes interpessoais, como brigas de vizinho e feminicídios, por exemplo, são o recorde de desemprego e a piora da saúde mental da população.

A alta de mortes violentas intencionais é maior no Nordeste. Todos os estados da região tiveram aumento da violência letal, com recorde no Ceará. Muitos policiais entendem que a liberação de presos em virtude da pandemia, recomendada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), não foi feita de forma criteriosa e resultou na soltura de membros de facções e de homicidas. No Piauí, por exemplo, a curva ascendente na taxa de homicídios coincide com esse período de soltura.

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Mas muitos policiais também veem o aumento da circulação de armas de fogo como causa da maior taxa de homicídios. Em Alagoas, por exemplo, o crescimento do número de registros de novas armas chegou a 691% de 2019 para 2020. Ao mesmo tempo em que se tem mais pessoas circulando com armas, parte do efetivo de policiais foi infectado pelo coronavírus e afastado das ruas, o que dificultou o combate ao crime.