Os slogans sempre marcaram campanhas presidenciais nos Estados Unidos. A expressão “Yes, we can” (Sim, nós podemos) de Barack Obama influenciou milhões de eleitores, especialmente jovens. Em 1984, Ronald Reagan empolgou com “It's Morning Again in America” (É manhã de novo na América, em tradução livre).
Nas últimas eleições, Donald Trump se utilizou de um slogan com base em uma expressão com grande apelo entre os americanos. A frase considerada genial “Make America Great Again” (Faça a América grande de novo) já havia sido citada por outros candidatos, tanto republicanos como democratas, mas sempre em segundo plano, não como principal mote de campanha.
Agora em 2020, em que busca a reeleição, Trump deu uma recauchutada no slogan de quatro anos atrás com “Keep America Great” (Mantenha a América grande). Para enfrentar Trump, o democrata Joe Biden lançou o slogan “Build Back Better” (algo como ‘Reconstruir melhor’, em tradução livre).
Os lemas atuais de Trump e Biden estão longe da genialidade de legendas usadas em campanhas presidenciais passadas. Enquanto o bordão de Trump é requentado, o de Biden parece dizer pouco à grande massa de eleitores.
Mas em várias disputas presidências nos Estados Unidos não é só o mote principal da campanha que impulsiona seus candidatos. Frases secundárias dão força para mobilizar o eleitorado. Obama, por exemplo, fez fama com “Hope” (Esperança) e “Change, we need” (Mudança, nós precisamos).
Biden e Trump também já têm as suas apostas de slogans secundários. E é neles que os dois rivais parecem se concentrar neste início de campanha. O republicano aposta no lema lançado por seu governo em 2019, o “America First” (América em primeiro lugar, em tradução livre). O democrata, por sua vez, joga peso num tema que tem forte penetração na cultura americana, o "Buy American" (expressão com apelo nacionalista para que se compre produtos americanos, e não importados).
Com o seu “America First”, Trump tem acusado o adversário democrata de ‘perigoso e tolo’ por apoiar acordos comerciais que seriam prejudiciais ao país, como o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) e a Parceria Transpacífico. Biden argumenta que os acordos são uma contraposição ao isolacionismo dos EUA, que, segundo ele, vem sendo praticado pelo atual governo.
A resposta de Biden, com o plano “Buy American” – apresentado no começo deste mês –, é uma alternativa ao nacionalismo econômico usado por Trump para conquistar o eleitorado. Por isso, tem forte dose de nacionalismo. Tanto que em algumas expressões as campanhas são parecidas: “Made in the USA” (Feito nos EUA) brada Trump; “Made in America” (Feito na América) prega Biden.
Entre as propostas do democrata está a “recuperação da manufatura e da inovação americanas, para que o futuro seja feito na América por todos os trabalhadores da América".
O plano "Buy American" inclui uma injeção de US$ 400 bilhões em investimentos em aquisições para "alimentar a nova demanda por produtos, materiais e serviços americanos" e US$ 300 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, incluindo novas tecnologias e inteligência artificial, para aumentar a "fabricação de valor" no país e, consequentemente, gerar empregos mais qualificados e de remuneração mais alta. A campanha do democrata diz que as medidas vão permitir "a maior mobilização de investimentos públicos em compras, infraestrutura e P&D desde a Segunda Guerra Mundial".
A proposta do democrata coincide com a de Trump ao estimular o consumo de bens produzidos no país, mas se contrapõe ao adversário ao promover novas regras tributárias que incluem o aumento dos impostos corporativos de 21% para 28% e ao fortalecer os trabalhadores por meio do acesso à sindicalização. Também propõe reverter a alíquota mais alta do imposto de pessoa física para contribuintes que ganham acima de US$ 400 mil ao ano, dos 37% previstos na lei atual para 39,6%.
Em 2016, Trump conquistou muitos apoios com suas promessas de reavivar o setor industrial. Agora, Biden acusa o concorrente de desprezar a classe trabalhadora e falhar na recuperação da indústria americana de alto valor agregado.
O “Buy American” de Biden é inspirado em uma lei aprovada em 1933, o chamado "The Buy American Act". Essa lei americana exige de todos os órgãos governamentais o esgotamento das possibilidades de compra dentro do país, antes de buscar bens e serviços importados. Ela foi aprovada com o objetivo de estimular a geração de empregos para os trabalhadores americanos. Por essa lei, os órgãos públicos americanos são obrigados a comprar no país tudo o que necessitam, desde lápis e borracha até aviões e serviços de engenharia.
Tanto o “America First” de Trump como o “Buy American” de Biden mostram que, mesmo na economia considerada mais liberal do mundo, a defesa do que é feito em casa fica em primeiro plano.
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