Criado há apenas 7 anos, movimento Black Lives Matter se espalha por vários países.| Foto: Scott Heins/AFP
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Desde os movimentos liderados pelo ativista Martin Luther King Jr., nos Estados Unidos, nos anos de 1960, e por Nelson Mandela, na África do Sul, de 1960 a 1980, o mundo não presenciava uma mobilização tão ampla em defesa dos direitos como a que foi desencadeada a partir da morte de George Floyd, homem negro asfixiado pelo policial Derek Chauvin, no dia 25 de maio, em Minneapolis, estado de Minnesota.

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De Londres a Tóquio, de Sydney a Seul, de Paris a Toronto, de São Paulo à maioria das grandes cidades norte-americanas. Nos últimos dias o mundo está sendo chacoalhado por uma onda de manifestações em defesa dos direitos civis, contra o fascismo, o racismo e a violência de representantes das forças do Estado.

Nas ruas, uma das principais bandeiras erguidas pelos manifestantes estampa a frase Black Lives Matter (Vidas Negras Importam). O lema é inspirado em um movimento criado nos EUA há apenas sete anos, em 2013, em resposta à absolvição do segurança George Zimmerman, que assassinou o jovem negro Trayvon Martin em fevereiro de 2012, em Sanford, Flórida.

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Hoje o Black Lives Matter é uma organização global, cuja missão é erradicar a supremacia branca e a opressão às populações negras. “Somos um coletivo de luta pela liberdade, libertação e justiça. Também acreditamos que, para ganhar e trazer tantas pessoas conosco ao longo do caminho, devemos ir além do nacionalismo”, define-se o movimento.

Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi, as fundadoras do Black Lives Matter.| Foto: Divulgação/BLM

O Black Lives Matter, apesar de carregar em seu DNA genes das lutas lideradas por Luther King e Mandela, apresenta uma série de diferenças. A começar pela iniciativa de sua fundação, que teve à frente três mulheres negras: Alicia Garza, Patrisse Cullors e Opal Tometi.

Alicia Garza, 39 anos, nasceu em Oakland, Califórnia, e atua na área de saúde, direitos dos estudantes, direitos para empregados e empregadas domésticos, fim da violência policial e antirracismo. Patrisse Cullors, 36 anos, nasceu em Los Angeles, Califórnia, é artista e ativista na defesa de mudanças no sistema penitenciário de vários estados norte-americanos. Opal Tometi, 35 anos, é uma nigeriana-americana que cresceu em Phoenix, Arizona. Atualmente dirige a Aliança Negra por Imigração Justa (Baji, na sigla em inglês).

A largada para o movimento foi dada com um post de autoria de Alicia Garza no Facebook. "Uma nota de amor para os negros. Eu amo vocês. Eu amo a gente. Nossas vidas são importantes." Patrisse Cullors, então amiga de rede social e ativismo, adicionou a hashtag #BlackLivesMatter, que quase instantaneamente se tornou viral.

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Garza, Cullors e Tometi se conheceram inicialmente através de uma organização popular que treina organizadores da comunidade negra. A partir daí se juntaram e viram a frase que empunhavam se espalhar muito além do que imaginavam.

Londres é uma das cidades da Europa em que o Black Lives Matter está organizado| Foto: Divulgação/BLM

O Black Lives Matter foi a primeira organização a reconhecer a mídia social como uma força necessária na mobilização de ações. Foi de Tometi a iniciativa de criar as plataformas sociais do movimento e liderar sua estratégia social inicial.

Apesar de ter se inspirado nas lutas pelos direitos civis da década de 1960, o novo movimento buscou um modelo não centrado em um líder carismático, como era Luther King. A concepção básica é que conceder poder de decisão a um indivíduo ou a um punhado de indivíduos representa um risco para a durabilidade de um movimento. Diversidade, globalismo, empatia, justiça e intergeracionalidade estão entre os princípios da organização.

Em uma entrevista à New Yorker – importante revista norte-americana de jornalismo, críticas e ensaios, fundada em 1925 – Tometi declarou que a organização "sempre foi um pouco descentralizada". "Células diferentes podem abordar questões diferentes", explicou ao enfatizar que sempre existe uma "linha de valorização da vida negra e a compreensão de que não somos um monólito, mas somos radicalmente inclusivos em termos de composição".

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Black Lives Matter chegou a Tóquio e a Seul.| Foto: Reprodução/Facebook

Com representações em países diversos, o movimento está organizado em praticamente todos os estados norte-americanos. Há células em Boston, Chicago, Washington DC, Denver, Detroit, Los Angeles, Memphis, Nashville, New York City e Philadelphia, entre outras cidades.

O Black Lives Matter atua também na área cultural, com inspiração nos movimentos de 1960 e 1970 de Direitos Civis, Poder Negro e Direitos da Mulher. “Rompemos o status quo do mundo da arte, elevando artistas negros emergentes que falam audaciosamente, que não têm medo e que são solidários com os mais marginalizados entre nós. Artistas que nos chamam para mudar a maneira como nos vemos uns aos outros. Artistas que centram amor, alegria, dignidade e liberdade”, afirma o movimento.

Com o crescimento, o movimento precisa cada vez mais de recursos financeiros para se estruturar e desenvolver suas atividades. Além de doadores individuais, o Black Lives Matter também vem recebendo dinheiro de dezenas de organizações, pequenas e grandes. Entre as maiores doadoras estão Open Society Foundations, Ford Foundation e Borealis Philanthropy. A Open Society Foundations é uma rede internacional de doadores fundada pelo magnata dos negócios George Soros.