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Brincadeiras de criança
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Nos velhos tempos da Folhinha (Folha de S. Paulo) escrevíamos aos domingos continhos e poeminhas de levar além. Tatiana Belinky, Frei Betto, Ana Maria Machado e tantos outros viajávamos nas letrinhas. Depois comecei uma outra viagem, no Estadinho, de O Estado do Paraná. Com ilustrações de Denise Roman, era uma história quase sem fim.

Todo dia era dia de criança. E hoje ainda todo dia é dia de criança.




Brincadeiras de papel

Cecéu sonhava com papagaios de papel. Queria ter uma pipa para flutuar com ela sob o céu. Quando voltava da aula, se esquecia até da bolsa e da lancheira de tanto contemplar as pipas dos outros meninos brilhando ar.

Na sala de aula, se a professora pedia para a turma desenhar flores, bicicletas ou árvores, Cecéu desenhava papagaios de papel. Coloriu todas as páginas do seu caderninho com pipas pintadas com lápis de cor.

O papai e a mamãe do Cecéu não tinham dinheiro para comprar uma pipa colorida para ele.

À noite, enquanto dormia, Cecéu sonhava, sono leve, voando sobre a cidade. Flutuava suspenso pela linha de seu papagaio enorme, como um pássaro de penas cintilantes.

– Quando eu crescer, quero um papagaio-sol, falava para os outros meninos.
– Eu quero um papagaio-lua, dizia um amiguinho.
– Eu invento um papagaio-estrela, imaginava Cecéu.

Um dia, quando Cecéu estava olhando as pipas dos outros meninos, um vento forte balançou os galhos das árvores. As folhas caíram pelas calçadas e a linha de um papagaiozinho de papel amarelo quebrou-se de tão frágil. A pipa foi flutuando e caindo como presente vindo do céu, até se prender na árvore do quintal da casa dele.

Cecéu puxou o pedaço de linha e, com cuidado, tirou o papagaio todo rasgado da árvore. Olhou como o papel estava colado nas varetas de bambu. Observou os detalhes, as emendas de papel, como um aprendiz. Mas não houve tempo de comemorar o achado por que o dono da pipa – um menino loirinho, que morava lá na rua da pracinha – apareceu e levou-a embora.

Cecéu não ficou triste. Ele havia descoberto como se fazia um papagaio de papel.

No outro dia, o sol alaranjado nasceu lá no morro. Depois da aula, Cecéu pegou cola, papel e a tesoura de pontas arredondadas do material escolar e umas varetas de bambu que ganhou do vizinho. Trabalhou como um artista. Fez uma pipa com todas as cores que ele sabia dizer o nome. A mais bonita do mundo. E o papai ajudou a amarrar a linha quando tudo estava pronto.

– Minha pipa vai pro ar, cantava para o gatinho dorminhoco no sofá.

Quando chegou domingo, um dia claro de manhã alegre, Cecéu soltou seu papagaio de cores livres ao vento. Os raios de sol brilhavam e sua pipa flutuava; voava leve.

O papagaiozinho de papel do Cecéu foi flutuando, subindo, além de todas as coisas. Voando sob o azul do céu do Cecéu, passou entre as nuvens, até chegar às estrelas.

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