Muita gente deve se lembrar do livro Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus (1993), do escritor norte-americano e conselheiro de relacionamento John Gray. O best-seller, que vendeu mais de 50 milhões de cópias e virou seriado de TV, defende a tese de que grande parte dos problemas na relação entre homens e mulheres são um resultado fundamental de diferenças psicológicas entre os sexos.
Pois bem. As diferenças entre homens e mulheres são muitas, mas um novo estudo mostra que os cérebros humanos não se encaixam perfeitamente em categorias “feminino” e “masculino”.
Pesquisadores alemães, suíços e israelenses, liderados por Daphna Joel, neurocientista comportamental da Universidade de Tel Aviv, em Israel, descobriram que, em relação ao cérebro, não existem diferenças entre mulheres e homens. No fundo, há um mosaico geral para o órgão e esse não se altera consoante o gênero.
A pesquisa, publicada na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), dos EUA, não encontrou quaisquer provas que as conexões neurológicas, a espessura do córtex cerebral ou o cérebro em geral sejam diferentes pelo simples facto de existir diferenciação de sexos. Para se chegar a esta conclusão foi comparada a anatomia de 1.400 cérebros de homens e mulheres.
Para Daphna Joel, pode ser um mito a ideia de que homens e mulheres parecem se comportar de forma diferente por causa do cérebro.
“Não há uma pessoa que tem todas as características masculinas e outra pessoa que tem todas as características femininas. Ou se elas existem são muito, muito raro de encontrar”, diz Joel.
A descoberta pode alterar a forma como os cientistas estudam o cérebro e até mesmo como a sociedade define gênero, segundo os pesquisadores.
Uma das muitas implicações é que os pesquisadores que estudam o cérebro podem não precisar comparar machos e fêmeas ao analisar seus dados. Outra é que a extrema variabilidade dos cérebros humanos debilita as justificativas para a educação sexualmente segregada com base nas diferenças inatas entre homens e mulheres, e talvez mesmo as nossas definições de gênero como categoria social, afirma a pesquisadora.