Durante 33 anos, desde o fim da ditadura militar, duas forças dominaram a política chilena: a centro-esquerda da ex-presidente Michelle Bachelet e a centro-direita de Sebastián Piñera, atual presidente. Essa polaridade chegou ao fim neste domingo (21), quando os chilenos escolheram para o segundo turno um político de direita, José Antonio Kast, que tem em seu programa propostas consideradas de extrema-direita, e outro de esquerda, Gabriel Boric, apoiado pelo Partido Comunista.
Os resultados do primeiro turno, de acordo com os dados do Serviço Eleitoral, mostram esgotamento do modelo de centro-esquerda e centro-direita que levou o Chile a ter um dos melhores indicadores econômicos e sociais da América Latina. Tanto que o candidato do governo, Sebastián Sichel, da coalizão Vamos Chile, ficou praticamente empatado com Franco Parisi, um candidato que mora nos EUA e fez campanha à distância, do estado de Alabama, e não colocou os pés no país nem mesmo para votar. Pior ainda foi o resultado da candidata da aliança de centro-esquerda Novo Pacto Social, Yasna Provoste, que amargou um quinto lugar.
Os vencedores são opostos em tudo. O direitista Kast integrava o governo até bem pouco tempo, mas suas posições mais à direita provocaram desentendimento com Piñera. Em 2020 ele fundou o Partido Republicano, pelo qual conseguiu agora ser o candidato mais votado do primeiro turno. Conservador, Kast defende redução do número de ministérios e a construção de um muro no norte do país, para impedir a entrada de imigrantes, principalmente do Peru e da Bolívia. Também defende o legado do governo de Augusto Pinochet – ditador que comandou o Chile durante o regime militar, entre 1973 e 1990 – ele é irmão de Michael Kast Rist, que foi ministro do Planejamento (Odeplan) e do Trabalho no governo de Pinochet
Kast defende ainda a revogação da legislação que aprova o aborto em casos de risco de morte da mãe, estupro e inviabilidade do feto. Declara-se contra políticas de diversidade sexual.
O adversário de Kast no segundo turno, o esquerdista Gabriel Boric, é responsável por esvaziar a centro-esquerda que governou o Chile na maior parte do tempo desde a redemocratização. Jovem, fã de rock e de futebol, Boric defende o feminismo, o ambientalismo, a descentralização de poder e profundas reformas no país, especialmente no modelo econômico e na previdência social. Ele propõe a criação de um sistema público de aposentadoria, com pensão básica universal, em substituição ao sistema privado.
Oriundo dos movimentos de massa, Boric se apresenta como o novo na política chilena. Ele é o rosto mais expressivo das manifestações estudantis que tomaram as ruas de Santiago e outras cidades em 2011 e dos jovens que ocuparam as ruas chilenas no final de 2019.
Boric integra a Frente Ampla, agrupamento que tem semelhanças com o movimento Podemos, da Espanha, responsável por colocar fim ao bipartidarismo espanhol.
A disputa a partir desta segunda-feira (22) será para conseguir os apoios dos candidatos derrotados. Kast busca os eleitores de centro-direita e direita que votaram em Sebastián Sichel ou em Franco Parisi. Boric, por sua vez, espera contar com os eleitores dos centro-esquerdistas Yasna Provoste e Marco Enríquez-Ominami e do esquerdista Eduardo Artés, este último com votação de pouco mais de 1%.
Logo após a definição dos nomes que iriam para o segundo turno, o governista Sichel declarou que não votará em Boric, o que significa apoio a Kast. De outro lado, o Partido Socialista, de Bachellet e que integrava a coalizão liderada pela democrata-cristã Provoste, declarou apoio a Boric.
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