A habilidade do governo nas negociações para compra antecipada de vacinas e a diversificação de imunizantes levaram o Chile – um dos países de maior renda per capita entre os sul-americanos – ao posto de líder em vacinação contra Covid-19 na América Latina. O país andino chegou a cerca de 2 milhões de vacinados neste domingo (14), o que representa 10% da população.
Esse porcentual é muito superior ao obtido até agora por vizinhos, como o Brasil (2,4%, Argentina (1,3%) e Peru (0,2%), segundo dados do Our World in Data (Nosso Mundo em Dados, em tradução livre), publicação digital especializada em pesquisas desenvolvidas por cientistas da Universidade de Oxford em parceira com a organização Global Change Data Lab.
Com o avanço rápido, o Chile também se destaca entre os que, proporcionalmente à sua população, mais vacinaram no mundo, perdendo somente para Israel (o líder mundial), Emirados Árabes, Reino Unido e Estados Unidos.
A meta das autoridades de saúde chilenas é chegar a 25% da população ainda neste trimestre – até o final de março. No segundo trimestre o plano prevê acelerar ainda mais a aplicação de vacinas, de tal forma que em junho – portanto dentro de pouco mais de quatro meses – 80% da população esteja vacinada.
Esse porcentual é o número necessário, segundo estipularam as autoridades chilenas, para conseguir a imunidade coletiva. A ideia é ser um dos primeiros países do mundo a conseguir afastar a ameaça desastrosa do vírus, evitar novas mortes e fazer com que a vida volte ao normal, o que também propiciaria a recuperação econômica.
A realidade chilena hoje no combate ao novo coronavírus é bem diferente da registrada pouco tempo atrás. Em meados de 2020, o governo enfrentava duras críticas por sua atuação no enfrentamento da pandemia. Com as mortes avançando diariamente, a avaliação do governo no combate à Covid-19 era muito ruim e muitos temiam uma catástrofe maior. Hoje, ao contrário, a atuação das autoridades sanitárias é aplaudida.
Para os especialistas, a virada no Chile se deu pela combinação de alguns aspectos fundamentais. Um dos principais deles foi a habilidade governamental nas negociações para aquisição de imunizantes. Por meio de contratos antecipados e diversificados, foi possível garantir um alto número de doses de vacina em relação à sua população. O Chile não se prendeu apenas a um laboratório. Outro aspecto importante é a vacinação pública e gratuita.
O governo chileno comprou antecipadamente 10 milhões de vacinas do laboratório Sinovac – a Coronavac, mesmo imunizante aplicado no Brasil – e mais 10 milhões da Pfizer, usada amplamente nos EUA. Também fechou acordos com a AstraZeneca-Oxford, os laboratórios Janssen, da Johnson & Johnson, e a iniciativa global Covax para mais 10 milhões de doses. Com isso, o país terá volume suficiente de imunizante para cumprir a meta de vacinar 80% da população até junho próximo.
A boa oferta de vacina no país vai permitir que até a próxima sexta-feira (19) todas as pessoas com mais de 65 estejam vacinadas. Nesta data, todos os profissionais de saúde e portadores de doenças crônicas também terão recebido a vacina.
Segundo o diretor regional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) na América Latina, Luis F. López-Calva, para obter êxito na vacinação os países precisam ter em conta três fatores fundamentais: ter recursos financeiros e disposição para comprar vacinas, uma boa estratégia para a distribuição dos imunizantes e uma estrutura para implementar a campanha de vacinação. Isso sem falar na vontade política dos governos em vacinar.
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