No primeiro turno das eleições ocorreu uma série de episódios que contribuíram para corromper a democracia brasileira. Alguns foram amplamente divulgados, como a onda de fake news (notícias falsas), mas outros fatos gravíssimos tiveram pouco destaque na mídia e quase nenhuma análise.
A pressão de empresas e de clubes de futebol sobre funcionários e atletas para fazer coro a uma determinada candidatura pode ter efeito devastador ao sistema democrático. Ao enfileirar colaboradores e integrantes de equipes em torno de um candidato, dirigentes de clubes e executivos de empresas provocam uma deturpação do estado de direito e ferem mortalmente a democracia.
O posicionamento de muitos candidatos diante de tais atitudes deixa a desejar. Ao coagir e constranger funcionários a favor de Jair Bolsonaro (PSL), como ocorreu em vários estados, dirigentes e executivos não prejudicaram apenas uma candidatura. Tal atitude antidemocrática atingiu a todos os concorrentes, de João Amoêdo (Novo) a Guilherme Boulos (Psol), de Alckmin (PSDB) a Marina Silva (Rede), de Alvaro Dias (Podemos) a Henrique Meirelles (PT).
Os candidatos, unanimemente, deveriam repudiar tal prática antidemocrática. A democracia só avança quando é garantido às pessoas o direito de livre escolha. Donos de empresas e dirigentes de clubes têm todo o direito de manifestar suas posições e declarar voto – podem, inclusive, participar da campanha do candidato de sua preferência –, mas fazer uso do poder econômico para impor suas posições político-eleitorais aos funcionários e atletas não faz bem à democracia.
Casos registrados pelo Ministério Público (MP) de empresas que prometeram dispensa e até churrasco com chope para os funcionários caso determinado candidato – indicado pelos patrões – fosse o vencedor vão além de manipulação. Pode também configurar compra de voto, já que há claramente a oferta de recompensas em troca de um resultado eleitoral.
A Promotoria de Justiça Eleitoral de Cianorte, no Noroeste do Paraná, instaurou na quinta-feira (4) um procedimento preparatório eleitoral para investigar nove empresas que estariam tentando induzir seus empregados a votarem em Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência da República.
Outro episódio que trouxe preocupação foi registrado no jogo entre Atlético-PR e América-MG, no último sábado (6), véspera das eleições. Quase todos os jogadores do time entraram em campo com uma camisa amarela com a frase “vamos todos juntos por amor ao Brasil”. O slogan tem sido usado por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL), candidato à Presidência da República.
Como o caso foi relatado na súmula pelo árbitro Raphael Claus, o Superio Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) tem prazo de 30 dias para se manifestar. Não está descartada uma consulta do STJD à Fifa sobre o caso.
O Ministério Público do Trabalho em Santa Catarina (MPT-SC) entrou na terça-feira com uma ação judicial contra a rede de lojas Havan, após o dono da empresa, Luciano Hang , pedir que seus funcionários votem no candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL). Na mensagem, Hang afirma que “se a esquerda ganhar” fechará lojas e demitirá empregados, o que foi considerado pela procuradoria uma forma de coação.
Em outro caso, a Procuradoria Regional Eleitoral do Paraná instaurou procedimento preparatório eleitoral, no último dia 2 de outubro, contra o Grupo Condor, rede de supermercados que tem sede em Curitiba (PR), e seu presidente, Pedro Joanir Zonta, após a divulgação de uma carta aos colaboradores da empresa na qual o empresário declara voto ao candidato à Presidência da República nas eleições 2018 Jair Bolsonaro (PSL) e pede que os funcionários “confiem” no presidenciável.
Esses episódios demonstram que a democracia brasileira ainda precisa de uma longa caminhada para corrigir as suas deformações.
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