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Peru - primeiro turno
Pedro Castilho combinou programa de esquerda na economia, saúde e educação com pauta conservadora nos costumes.| Foto: Divulgação de campanha/Facebook

– Mudança de um Estado regulado pelo mercado, centralista e vigilante por um Estado que regula o mercado, descentralizado, planejador, inovador, empreendedor e protetor, com nacionalização de setores estratégicos.

– Rejeição ao aborto, rejeição ao casamento homossexual, não inclusão da igualdade de gênero no currículo escolar, rejeição à eutanásia.

Esses são alguns pontos de destaque das propostas econômicas e da pauta de costumes de Pedro Castillo, vencedor do primeiro turno das eleições presidenciais no Peru, realizado no domingo (11). O candidato do movimento Peru Livre tornou-se a grande surpresa da campanha eleitoral ao combinar propostas classificadas como de esquerda na economia, na educação, na saúde e outros setores, com uma defesa de valores conservadores na sociedade peruana.

“Você tem que defender a família na escola. Pensar em outra coisa é quebrar a família. Como professores, respeitamos os valores da família e eles devem ser aprofundados”, prega ao se posicionar contra o casamento homossexual e a inclusão da igualdade de gênero no currículo escolar.

Pouco conhecido da população peruana até há poucos anos, Castillo nasceu no povoado andino de Puña, na região de Cajamarca, e é professor primário na zona rural. Seu principal foco na campanha eleitoral foi a defesa de convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte para substituir a Constituição de 1993, redigida após o autogolpe do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000), condenado a 25 anos de prisão por crimes de corrupção e violação dos direitos humanos.

Com uma nova Constituição, Castilho promete realizar uma reforma econômica na qual o Estado assumiria um papel de empreendedor para competir com o setor privado. O modelo desenhado pelo movimento Peru Livre prevê substituir a chamada ‘Economia Social de Mercado’ pela ‘Economia Popular com Mercados’.

A proposta do líder do 1º turno no Peru inclui a presença de empresas públicas nos mais diversos setores da economia em competição direta com as empresas privadas. “Não somos contra empresas privadas desde que sua atividade seja traduzida em benefício da maioria dos peruanos, também não proibimos a competição empresarial estatal, ninguém pode ter exclusividade ou vetos”, diz Castillo ao se referir ao plano de seu partido.

O movimento Peru Livre fala em “novo pluralismo econômico”, em que “não deve haver espaço para acordo de preços, acumulação e especulação econômica” e que “empresas privadas possam competir livremente entre elas e com o setor público”.

Ao mesmo tempo, o movimento defende que “a exclusividade de gestão de alguns recursos estratégicos só pode ser reservada para o Estado peruano na salvaguarda dos interesses nacionais em questões de economia, soberania, segurança, energia e alimentação”.

Peru - primeiro turno
Professor do ensino primário na zona rural do Peru, Castilllo usa o lápis e o chapéu como principais símbolos da campanha.| Divulgação de campanha/Facebook

A proposta incluiu a nacionalização de empresas de diversos setores da economia classificados como estratégicos, como mineração, petróleo, hidrelétricas, gás e comunicações. “Em muitos casos deve-se usar apenas a nacionalização e não a estatização, compensando o privado pelo que foi investido e administrando os lucros totais gerados”, explica o documento.

Na educação, Castillo defende a proposta para destinar 10% do produto interno bruto (PIB) ao setor. O aumento de recursos, segundo o programa, permitirá investimentos em infraestrutura, equipamentos, melhores salários aos professores e funcionários. Uma das metas é erradicar o analfabetismo, que atinge 2,7 milhões de pessoas no país.

Na saúde, o líder do primeiro turno das eleições presidenciais diz que é preciso estabelecer uma nova política de as~ude pública e privada e também propõe destinação de 10% do PIB e declaração de emergência no setor. Com isso, a meta é implantar um sistema universal de saúde, “público, gratuito, massivo, descentralizado e participativo”.

Castillo promete ainda um novo Tribunal Constitucional com seus integrantes eleitos pela população, em consulta popular, em substituição ao modelo atual, em que o Congresso escolhe os membros a Corte Suprema.

Pedro Castillo ganhou notoriedade a partir de 2017, quando liderou uma grande greve nacional de professores que interrompeu as aulas por três meses para exigir melhores salários e condições de ensino.

Candidato pela primeira vez à presidência do país, Castilho não é um novato na política. Em 2002 ele foi candidato a prefeito de Anguía e em 2005 passou a dirigente do partido Peru Posible (PP), do então presidente Alejandro Toledo (2001-2006). Em seguida migrou para o movimento Peru Libre, de ideologia de esquerda.

Na maior parte da campanha presidencial Castillo esteve atrás nas pesquisas. Somente nas últimas semanas o interiorano professor viu sua popularidade disparar. Os analistas políticos peruanos avaliam que a surpresa se deu pela definição dos eleitores de esquerda que não encamparam a candidatura de Verónika Mendoza, progressista do bloco Juntos pelo Peru.

Pedro Castillo deverá disputar o segundo turno com Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, que ficou preso de 2007 a 20017, quando foi solto por problemas de saúde. Com 95,8% dos votos apurados pela Oficina Nacional de Processos Eleitorais (Onpe) nesta terça-feira (13), Castilho tinha 19,1% contra 13,35, de Keiko; 11,68% de Rafael López Aliaga, do partido Renovação Popular; e 11,64% de Hernando de Soto, do partido Avança País.

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