
“A Europa ocidental, responsável pela colonização de grande parte dos países do mundo, tem hoje como um dos seus principais problemas a imigração. Se logo após as duas guerras mundiais (1914-1918 e 1939-1945), os imigrantes eram bem vindos para reconstruir o continente, nos dias atuais eles são considerados um fator de desequilíbrio social.”
O texto acima foi escrito para registrar a realidade da imigração na Europa nos tumultuados dias de hoje? Não. Esse parágrafo é parte de uma reportagem que eu fiz 13 anos atrás, em junho de 2002, em Paris.
A identificação do texto com a crise imigratória atual da União Europeia mostra que o cenário não é novo. Naquele ano, de acordo com números da Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia (UE), 13 milhões de estrangeiros viviam ilegalmente nos países membros da comunidade. Só em 2000, 680 mil imigrantes chegaram à Europa.
Durante os anos 90, com o fim da União Soviética, houve o deslocamento de um grande número de pessoas de países da ex-URSS (leste europeu) para a Europa Ocidental.
A imigração de hoje difere um pouco da registrada nas décadas passadas, com destaque para o grande número de sírios. Mas continuam a chegar imigrantes do Norte da África e das ex-repúblicas soviéticas.
A crise nos países ao sul da União Europeia (Espanha, Portugal e Itália) reduziu um pouco o ritmo dos estrangeiros que chegavam à zona do Euro, principalmente de latino-americanos. Nem por isso, o fluxo de gente que busca melhores condições de vida distante de sua terra natal foi contido.
A imigração, desde aquela época, é tema de campanhas eleitorais dos candidatos da extrema direita em todos os países. Houve também nesse período uma série de medidas de repressão e controle da entrada de estrangeiros nos países da comunidade europeia, tanto de governos mais à direita como à esquerda.
A migração passou de problemas regionais para se transformar em uma questão global. A cada dia mais e mais pessoas deixam os países pobres e em conflito rumo às nações economicamente ricas.
Nos EUA, o tema da imigração domina as campanhas eleitorais. O presidente Barack Obama foi eleito com a promessa de regularizar a situação de mais de 11 milhões de ilegais que vivem no país. Passados praticamente dois mandatos, algumas medidas importantes foram tomadas, mas o impasse continua.
Mesmo nas regiões em desenvolvimento, como na América do Sul, o problema da imigração está presente. O Brasil, nos anos de crescimento econômico, passou a atrair um grande número de imigrantes da Bolívia e do Peru. Recentemente, mesmo em crise financeira, o país convive com a chegada dos haitianos.
A migração tende a se expandir com a crescente desigualdade econômica entre as nações. A solução não está em construir muros, cercas e outras barreiras. Os países ricos devem entender que é preciso promover o desenvolvimento global, sem as disparidades de hoje, e trabalhar para construir a paz. O fim das guerras, muitas vezes deflagradas pelos países desenvolvidos, e dos conflitos étnicos e religiosos, é uma condição fundamental para um mundo em equilíbrio.
Do contrário, assim como os europeus partiram de sua terra durante os anos de penúria e de guerras em busca de novos horizontes, os pobres, oprimidos e vítimas dos mais variados tipos de violência no globo não terão outra saída a não ser a migração.
Cópia da reportagem de 2002, no impresso da Gazeta do Povo.

Na foto, no alto, filhos de imigrantes nascidos na França.
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