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Com a hegemonia das redes sociais como veículos de informação, com maior ênfase a partir da última década, a prática do jornalismo comprometido com o esclarecimento real dos fatos – em que são abordadas diferentes visões de uma determinada questão, em que todos os lados envolvidos são mostrados – caiu em desuso. Em vez da busca objetiva da verdade dos fatos, o que passou a valer, para esses adeptos do pseudojornalismo interesseiro, é a visão deformada, a manipulação da informação de acordo com posições ideológicas, a desinformação.
O psudejornalismo envolve uma série de questões. Entre as principais se destaca a ânsia de ganhar fama e dinheiro. A receita para angariar rapidamente milhares de seguidores e "monetizar" seus conteúdos é simples: basta escolher um lado, ser partidário, e alimentar seus seguidores radicais com informações tendenciosas, que eles querem ouvir. Não pode fornecer informações que contrariem o rebanho. A regra é veicular somente o que a bolha concorda. Assim, os milhares de seguidores replicam as mensagens para milhões de pessoas, aumentando o ganho financeiro do autor, o prestígio e seu poder de influência.
Outro fator a ser considerado é a submissão da reportagem e do jornalismo crítico aos interesses corporativos. Muitos profissionais passaram a ser compelidos a produzir conteúdo de acordo com os “ditames” da empresa de mídia para a qual trabalham, o que foge ao interesse público.
Do ponto de vista de profissionais que ainda insistem em não aderir à onda da informação tendenciosa, da fraude informativa, vale observar que não se trata de não ter opinião, de não se posicionar quando é preciso tomar uma posição. A crítica e o posicionamento são imprescindíveis aos jornalistas e às jornalistas. Também não se trata de imposição de uma objetividade jornalística tecnicista, a qual desconsidera os contextos sociais.
O que se trata é a lealdade dos profissionais de jornalismo com todas as pessoas, independentemente de posições político-ideológicas, de religião, de condição social e econômica, de preferências. O que se coloca em questão é o rigor na checagem da informação a ser divulgada, o cuidado na verificação de dados. O que se questiona é a divisão entre fato e falsidade, entre o tendencioso e o ético.
O que separa o jornalismo da literatura (embora o jornalismo faça uso de recursos desta e vice-versa), da arte, do entretenimento e da propaganda é a disciplina da verificação, o duro trabalho da checagem, que permite mostrar a realidade objetiva dos fatos.
O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros estabelece que "a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público" e que "a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão".
O jornalismo esportivo, especialmente no futebol, é uma área em que alguns - muito poucos, vale frisar - profissionais conseguiram superar o dilema entre ter um lado, ter um time do coração, e, profissionalmente, abrir mão de sua “torcida”, da paixão pelo seu time, para relatar os episódios de uma partida como eles ocorrem. Se foi pênalti contra seu time, o jornalista ético diz que foi pênalti; se foi falta, ele não contesta um fato evidente que contraria a regra do jogo. Se o gol do time adversário foi legal, ele legitima e, se foi de placa, destaca a beleza, a plasticidade da jogada. É o reconhecimento do fato. Quando há dúvida, se coloca a dúvida, discute, debate. Claro que no esporte há também grande parte que atua tendenciosamente, mas essa parcela, embora numericamente expressiva, não merece crédito.
Os pseudojornalistas políticos brasileiros atuais viraram escravos de uma visão única. Fica estabelecida a cegueira diante de fatos que não interessam aos propósitos da bolha e, em contrapartida, coloca-se foco apenas nos fatos de interesse da manada que o segue.
Em vez de buscar, com base em dados reais, esclarecer a polarização atual na política brasileira, esses pseudoprofissionais produzem conteúdos que favorecem um ou outro lado da disputa. Perderam a independência (e não querem ser independentes). O que vale é alimentar os milhares de apoiadores (milhões em alguns casos) com informação tendenciosa que agrada a bolha. Quem contraria essa lógica é cancelado pela horda de seguidores.