Parte dos movimentos sociais e sindical, que tiveram papel decisivo até agora para contrabalancear as forças na “batalha do impeachment”, acenam com a possibilidade de abandonar a presidente Dilma Rousseff caso o governo insista na aprovação de medidas que tirem direitos dos trabalhadores na reforma da Previdência Social.
Por enquanto, grande parte dos líderes sindicais e de movimentos populares descontentes com as iniciativas do Planalto prefere cautela. Ainda há a expectativa de conseguir convencer o governo a mudar a pauta, com outras medidas para buscar receitas e corte de gastos.
Até janeiro, a Força Sindical era a central que se posicionava mais durante contra as reformas propostas por Dilma. Agora, além de outras centrais, sindicatos e federações de trabalhadores de todo o país começam a se mobilizar para barrar a retirada de direitos dos trabalhadores, como, por exemplo, limitar a idade mínima para as aposentadorias e a padronização das regras de homens e mulheres.
Sindicalistas ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e à União Geral dos Trabalhadores (UGT), centrais que apoiam abertamente o governo e lideraram mobilizações contra o impeachment, já admitem retirar o apoio à presidente em caso de o governo insistir na reforma como está sendo proposta.
“Em último caso, não está descartada a possibilidade de negociar com a oposição a não retirada de direitos dos trabalhadores em troca do apoio ao impeachment da presidente”, diz um líder sindical ligado ao grupo que até agora apoiou Dilma e que pediu para não ser identificado.
O presidente da UGT, Ricardo Patah, afirmou em mais de uma ocasião que as propostas não podem tocar nos direitos dos trabalhadores. Ele diz que esse ponto é inegociável. “A UGT conclama os brasileiros e suas lideranças sindicais a resistirem, por todos os meios ao seu alcance, a mais estes ataques aos direitos e conquistas que a duras penas foram acumulados ao longo da história de lutas da classe trabalhadora brasileira”, manifestou a central, em nota.
Nos movimentos sociais, a avaliação é que propostas como a reforma da Previdência e de mudanças trabalhistas, que ferem a CLT, podem representar o fim do governo Dilma.
“Até agora, a presidente barrou os defensores do impeachment graças à resistência de setores da sociedade como os sindicatos, as centrais sindicais, os sem-terra, o movimento de moradia e os estudantes. Se mexer com os trabalhadores, a Dilma cai em menos de dois meses”, prevê um integrante de movimento social, que também pediu para não ter seu nome divulgado. Ele prefere aguardar as negociações para barrar a investida do governo.
O presidente da Confederação Brasileira de Aposentados (Cobap), Warley Martins, rechaça a reforma proposta por Dilma. “Sou contra nova reforma. Vamos combater nas ruas. Meu voto será sempre contrário a qualquer tentativa de retirar direitos dos trabalhadores”, afirmou.
O coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, diz que os movimentos irão para “o enfrentamento” contra a reforma. Para ele, Dilma vai perder o apoio dos que foram às ruas defender seu mandato.
Líderes que articulam a reação à ofensiva de Dilma preveem apoio de parlamentares do PT descontentes com os rumos do governo. Nesse grupo estariam deputados e até senadores que têm participado de discussões para a criação de um novo partido.