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A notícia virou motivo de piadas nas redes sociais. Na quarta-feira (14), veio a público que a Polícia Federal (PF) encontrou cerca de R$ 30 mil escondidos na cueca do vice-líder do governo de Jair Bolsonaro no Senado, o senador Chico Rodrigues (DEM-RR). Parte desse dinheiro estava escondida entre as nádegas do parlamentar, segundo a PF.

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O caso envolvendo um aliado de Bolsonaro se junta a outros escândalos na história da política brasileira, como dinheiro guardado em meia de parlamentar e em malas recheadas de valores milionários frutos dos desvios de recursos públicos. A novidade do episódio do senador talvez seja o 'dinheiro nas nádegas'.

"... ao fazer a busca pessoal no Senador CHICO RODRIGUES, num primeiro momento, foi encontrado no interior de sua cueca, próximo às suas nádegas, maços de dinheiro que totalizaram a quantia de R$ 15.000,00", descreve o relatório da Polícia Federal.

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Após o escândalo, Chico Rodrigues foi afastado da vice-liderança do governo no Senado Federal. A decisão foi publicada no fim da manhã desta quinta-feira (15), no Diário Oficial da União. Também nesta quinta-feira, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o afastamento do senador.

Casos de dinheiro na cueca se tornaram comuns. Além da bizarrice, esses episódios mostram que os governos passam, mas a corrupção permanece. O mal feito não tem ideologia: está na direita, na esquerda, no centro. Dissemina entre conservadores, progressistas, liberais, socialistas e capitalistas.

Em julho de 2005, José Adalberto Vieira da Silva, na época assessor do então deputado estadual José Guimarães (PT), foi preso no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com US$ 100 mil na cueca e mais R$ 209 mil em uma maleta.

Passados 15 anos, o episódio ainda corre no Judiciário. Em outubro do ano passado, o juiz federal Danilo Fontenele, titular da 11ª Vara Federal no Ceará, rejeitou pedido de arquivamento da investigação. O inquérito apura a participação de quatro pessoas, além do ex-assessor Vieira da Silva. O hoje deputado federal José Guimarães foi absolvido pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2012.

Malas de dinheiro com R$ 51 milhões apreendidas em endereço relacionado ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, em Salvador.| Foto: Divulgação/Polícia Federal
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Os escândalos com malas recheadas de dinheiro da corrupção são mais comuns que os de cueca – muito mais ainda em relação ao dinheiro nas nádegas. Continua viva na memória de muita gente a imagem de Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado federal e ex-assessor do governo de Michel Temer, correndo pelas ruas de São Paulo, em 2017, com uma fortuna de R$ 500 mil em uma mala.

O caso foi apelidado de Joesleygate, considerando que o dinheiro teria vindo de Joesley Batista, do frigorífico JBS. No ano passado, o juiz Rodrigo Bentemuller, da 15ª Vara Federal em Brasília, suspendeu o processo para aguardar a conclusão do inquérito sobre Temer, instaurado a partir do mesmo episódio, para julgá-los juntos.

A mala transportada por Rocha Loures continha trocados se comparada com a apreensão no que ficou conhecido como “bunker” do Geddel Vieira Lima, ex-ministro dos governos Temer e Lula. Em setembro de 2017, durante o governo Temer, agentes da PF encontraram uma montanha de cédulas em várias malas, totalizando R$ 51 milhões, em um endereço ligado a Geddel, em Salvador. Ele está preso desde julho de 2017 e, em outubro do ano passado, foi condenado pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a 14 anos e dez meses de prisão em regime fechado. Seu irmão, o ex-deputado Lúcio Vieira Lima, a dez anos e seis meses também em regime fechado.

Tão excêntrico quanto dinheiro na cueca e nas nádegas é o caso do ex-presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente, filmado colocando dinheiro nas meias num vídeo da Operação Caixa de Pandora, da Polícia Federal (PF). Após a divulgação do vídeo, o então deputado disse que os recursos foram doações para a sua campanha de 2006 e admitiu que não foram declarados Justiça Eleitoral. Ele justificou a colocação do dinheiro nas meias como medida para a sua segurança.

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A operação que flagrou Prudente (trocadilho à parte, ele não demonstrou nenhuma prudência) foi deflagrada para investigar suposto esquema de corrupção que envolveu, além de deputados distritais e empresários, o então governador José Roberto Arruda (DEM), o vice-governador Paulo Octávio (DEM) e assessores do governo."

Os registros citados são uma pequena parte das malversações que compõem o universo político brasileiro. O termo ‘bizarro’, normalmente empregado para classificar esses episódios perniciosos, não cabe mais nessas situações. O ‘bizarro’ se transformou em coisa comum, nada excêntrico, singular ou diferente. Virou a regra.

Inúmeros são os adjetivos empregados para qualificar a corrupção brasileira. Quatro desses adjetivos merecem destaque: resiliente, persistente, sistemática e cultural. A corrupção brasileira é resiliente pela sua capacidade de voltar ao seu estado natural após sofrer ataques; é persistente devido ao fato de se manter mesmo diante do grito contrário da sociedade; é sistemática porque está instalada em todo o sistema da vida nacional; e se tornou parte da cultura do país.

Pela extravagância e maluquice aparentes, os casos de corrupção no Brasil serviriam como enredo de uma série de comédia. De mau gosto.

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