"No meu entender, se depender do Fachin, ou do voto do Fachin, para ser educado aqui... Ele (Lula) será presidente da República", disse o presidente Jair Bolsonaro no último dia 11 de abril, se referindo ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin. A afirmação foi feita ao podcast Irmãos Dias.
"Se a gente pegasse e mapeasse o endereço de cada deputado e fosse 50 pessoas na cada do deputado, não para xingar, para conversar com ele, com a mulher dele, com o filho, incomodar a tranquilidade dele, eu acho que surte muito mais efeito do que a gente vir fazer a manifestação em Brasília", sugeriu o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro na sede da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em São Paulo, em 4 de abril passado.
As duas declarações mostram uma prática comum de Lula e Bolsonaro nesses dias que antecedem a campanha oficial para as eleições de outubro próximo: o discurso dirigido a “bolhas” de militantes. A estratégia é mobilizar grupos de simpatizantes mais próximos para multiplicar suas mensagens nas redes sociais e outros canais da internet.
Ao insistir em criticar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do TSE, Bolsonaro busca manter cheia a “bolha de militantes” que quer mudança, a qualquer preço, na Suprema Corte do país. É nesse contexto das bolhas que surgem outras declarações polêmicas do presidente, como a defesa da criminalização do comunismo, comparando-o ao nazismo.
Em alguns casos, os discursos dirigidos especificamente a grupos de militantes acabam causando estrago - tem efeito de tiro no próprio pé. Um exemplo ocorreu no dia 5 de abril, quando Lula declarou, em evento na Fundação Perseu, que o aborto “deveria ser transformado em uma questão de saúde pública e todo mundo ter direito e não vergonha”.
A fala provocou forte reação em parcelas conservadoras da população a tal ponto que o ex-presidente procurou deixar claro, dois dias depois, que é contra o aborto. “A única coisa que eu deixei de falar, na fala que eu disse, é que eu sou contra o aborto. Eu tenho cinco filhos, oito netos e uma bisneta. Eu sou contra o aborto. O que eu disse é que é preciso transformar essa questão do aborto numa questão de saúde pública”, retificou Lula em entrevista à BandNews de Fortaleza, no Ceará.
No caso de Bolsonaro, os discursos para “bolhas”, além de terem o poder de mobilizar uma multidão de seguidores fanatizados, tem também o objetivo de desviar as atenções dos graves problemas do país. Inflação recorde, preços dos alimentos e dos combustíveis, alta dos juros e crescimento pífio da economia são temas que não podem aparecer na campanha à reeleição.
Do lado de Lula, muitos petistas começam a acender o alerta de que, ao se fechar nas “bolhas petistas”, o ex-presidente está se distanciando de setores da população que serão decisivos na eleição e que, no momento, ainda não decidiram em quem votar.
Nos últimos dias, alguns aliados chegaram a lembrar o episódio com o rapper Mano Brown, na campanha de Fernando Haddad à presidência, em 2018. Durante a disputa do segundo-turno, em evento no Rio de Janeiro com vários artistas, Mano Brown fez um alerta que retrata o sentido de bolha. Alerta esse que pode servir para a disputa agora de 2022: “Falar bem do PT para torcida do PT é fácil. Tem uma multidão que precisa ser conquistada ou vamos cair no precipício", disse em alto e bom som Mano Brown.
Fora das “bolhas” bolsonaristas e lulistas, o que grande parte da população espera são ações objetivas, não discursos para convertidos. Do lado de Bolsonaro, espera-se medidas do atual governo para resolver os problemas urgentes do país. De Lula, a expectativa é saber qual seu plano de governo para fazer o Brasil reentrar nos trilhos do crescimento sustentável e duradouro.
Os discursos para “bolhas” empobrecem a campanha eleitoral, tiram o foco dos principais problemas e afastam a maioria da população do debate sobre os rumos do país.
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