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O impasse na disputa presidencial peruana mostra como um sistema antiquado de voto em papel pode abalar a confiabilidade de uma eleição e, consequentemente, a democracia. Transcorrido mais de um mês desde que foi realizado o segundo turno das eleições no Peru, a Justiça Eleitoral ainda não declarou um vencedor.
A demora na proclamação do eleito não se dá por atraso na apuração. Todos os votos foram contados logo após a eleição. Os resultados divulgados pela Oficina Nacional de Processos Eleitorais (Onpe) mostram que o progressista Pedro Castillo, do partido Perú Livre, venceu as eleições com 50,12% dos votos contra 49,87% da conservadora Keiko Fujimori, do partido Força Popular. A vitória foi apertada, de pouco mais de 44 mil votos.
Por que, então, não se declara Castillo vencedor? O Jurado Nacional de Eleições (JNE), autoridade máxima do país em temas eleitorais, foi congestionado por ações dos defensores de Keiko, que acusam fraudes no processo eleitoral. No Peru a eleição é feita por voto de papel, em que o eleitor assinala o candidato numa cédula e a deposita na urna.
Mesmo que vários países e blocos, como União Europeia, Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e outros observadores internacionais, tenham declarado que as eleições presidenciais no Peru foram transparentes e dentro da regularidade, as autoridades eleitorais do país andino decidiram adiar o anúncio do vencedor até que todas as denúncias fossem julgadas.
O partido Força Popular, de Keiko, apresentou 271 ações para anular a eleição. Desse total, cerca de 90% foram julgadas como improcedentes pelo JNE. A expectativa era que nesta semana, finalmente, seria proclamado o vencedor, mas neste domingo o JNE deu sinais de que o anúncio poderá demorar um pouco mais, até o dia 20. A posse do eleito está prevista para o próximo dia 28.
Segundo informações de fontes do JNE conseguidas por alguns dos principais jornais do país, como La República e El Comercio, o anúncio depende apenas do voto de um de seus juízes, o recém-empossado Víctor Raúl Rodríguez Monteza. Os outros três juízes do JNE – o presidente do órgão, José Luis Salas Arenas, e seus outros dois integrantes, Jovián Valentín Sanjinez Salazar e Jorge Armando Rodríguez Vélez – teriam conseguido resolver por unanimidade todos os recursos apresentados à instituição.
Rodríguez Monteza, mesmo não tendo mais condições de mudar a decisão do órgão, ainda precisa resolver 40 recursos interpostos pelo partido Força Popular, além de não ter assinado outras oito resoluções que estão prontas.
A proclamação do vencedor não deverá colocar fim à “guerra” política peruana. Keiko Fujimori sinalizou na sexta-feira (10) que não vai reconhecer Castillo como presidente eleito se o jurado eleitoral proclamar o candidato de esquerda como vitorioso.