Enquanto grande parte dos países registra redução do número de novos casos e de mortes por Covid-19, o Brasil chega ao seu pior momento da doença desde que a pandemia foi decretada, em 11 de março do ano passado. Com base em um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), de dezembro de 2020, e de dados do maior estudo epidemiológico sobre a covid-19 no Brasil, o Epicovid-19, além da avaliação de especialistas e declarações de ex-ministros de Saúde, como José Gomes Temporão, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, é possível numerar uma série de erros do governo federal para conter a doença.
Há avaliações confluentes de que a maioria dos governos errou no início da pandemia. Os altos casos de mortes em países europeus no ano passado e nos EUA, até o início deste ano, são mostra dos erros. A diferença é que esses países usaram as falhas para tomar medidas mais assertivas posteriormente e hoje estão em melhor situação.
Veja dez falhas atribuídas ao governo brasileiro:
1 – Falta de Planejamento
Em 12 meses de pandemia, o Ministério da Saúde não conseguiu elaborar e pôr em prática um plano consistente de combate à Covid-19. “A resposta do Ministério da Saúde evidencia a ausência de uma estratégia federal minimamente detalhada para combater os efeitos da pandemia”, diz relatório do TCU. Até recentemente não havia um cronograma seguro de vacinação.
2 – Ausência de articulação e coordenação
O governo falhou na articulação com estados e municípios para elaborar um plano nacional de combate à pandemia. Em vez de atuar na coordenação, o governo federal, em vários momentos, entrou em atrito com governadores e prefeitos.
3 – Negacionismo
Desde o início da pandemia, o governo federal – especialmente o presidente Jair Bolsonaro – deu demonstrações públicas que contribuíram para enfraquecer as medidas de isolamento e distanciamento social. Combateu o uso de máscara, estimulou aglomerações e negou a gravidade da doença.
4 – Anticientificismo
Mesmo com os resultados preliminares dos estudos das vacinas, o governo preferiu apostar em medicamentos que a ciência já havia demonstrado serem ineficazes contra a Covid-19, como a hidroxicloroquina e ivermectina. Bolsonaro se nega a tomar vacina, mesmo com a comprovação de que elas são eficazes.
5 – Atraso na compra de vacinas
O negacionismo e o anticientificismo levaram o governo a deixar em segundo plano a compra de vacinas. Em alguns momentos, o presidente Jair Bolsonaro chegou a criticar as vacinas, como fez em relação à Corovac, dizendo que era “duvidosa”. Vários países se adiantaram em fechar contratos de compra de imunizantes, enquanto que o Brasil, quando decidiu fazer negócio, ficou com poucas opções e hoje enfrenta falta de vacinas para acelerar o programa nacional de vacinação.
6 – Ausência de campanha preventiva
O governo não investiu em campanhas públicas de informação, a exemplo do que historicamente sempre fez em relação a outras questões. Muitos países desenvolveram campanhas sobre medidas preventivas, como uso de máscara, higiene, não aglomeração e uso de álcool em gel. A falha foi reconhecida nesta semana pelo vice-presidente da República, Hamilton Mourão.
7 – Resistência a medidas restritivas
Durante a gestão de Mandetta, no início da pandemia, o Ministério da Saúde chegou a defender algumas medidas preventivas, como o isolamento social. Mas, depois, o governo federal passou a agir contra qualquer medida restritiva, o que, segundo os especialistas, favoreceu a disseminação do vírus. O presidente Jair Bolsonaro, por mais de uma vez, criticou duramente o fechamento temporário de setores não essenciais.
8 - Monitoramento das variantes
A ausência de uma estratégia de isolamento de regiões mais afetadas pela pandemia e de controle do vírus facilitaram o aparecimento de uma variante em Manaus que os pesquisadores dizem ser mais transmissível do que o vírus “original” descoberto na China. A variante se espalhou pelo país e hoje é responsável pela piora da pandemia.
9 – Economia em primeiro, saúde depois
Desde o início da pandemia, o governo se preocupou com os impactos na economia, deixando a doença em segundo plano. Para muitos economistas, o erro do governo foi não aceitar que, sem controlar o coronavírus, a economia não vai se recuperar tão rapidamente. Com o agravamento da Covid-19 as pessoas não se sentem seguras para produzir, o que acaba impactando negativamente a economia.
10 - Aquisição e administração de materiais
Lentidão para compra de equipamentos e materiais, como agulhas e seringas, além de falhas na entrega dos materiais adquiridos são outros problemas apontados pelo TCU. Equipamentos de proteção individual (EPIs), respiradores e kits para diagnóstico estão entre os materiais que, segundo o tribunal, tiveram falhas de entrega.
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Observação: há dados e avaliações que apontam erros também de muitos governadores e prefeitos no combate à pandemia, assim como de outros gestores da saúde, mas essas falhas não são objeto deste texto, o qual se restringe à atuação do executivo federal.
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