As principais bolsas de valores mundiais derreteram neste começo de semana. O índice Dow Jones caiu 1,78%, o Nasdaq, que reúne as principais companhias de tecnologia do planeta, baixou mais de 2,1% e o Ibov, da bolsa brasileira, tombou 2,33% na segunda-feira (20). O mercado de criptomoedas – com capitalização de mais de US$ 2 trilhões, bem superior ao PIB do Brasil – também entrou em queda livre. O Bitcoin, principal moeda digital, chegou a valer R$ 257 mil no sábado (18) e, em menos de 48 horas, caiu para R$ 220 mil. Qual o motivo do pânico? O risco de colapso da gigante imobiliária chinesa Evergrande.
O tamanho do rombo da incorporadora chinesa tem potencial para desacelerar a segunda maior economia do planeta e provocar danos colaterais em praticamente todos os países que hoje concentram grande comércio com a China. A Evergrande possui a maior dívida do mundo entre as incorporadoras, com um passivo de US$ 300 bilhões (superior ao PIB de países, por exemplo, como Portugal, Grécia e Chile).
Depois de se expandir rapidamente e abocanhar ativos enquanto a economia chinesa crescia em ritmo de foguete entre 2000 e 2010, a incorporadora foi além do setor imobiliário e hoje está em toda parte. O conglomerado atua em diversos setores, como veículos elétricos, serviços de saúde, produtos de consumo, unidades de produção de vídeo e televisão, parques temáticos e até clube de futebol, o Guangzhou Football Club.
A equipe do Guangzhou já foi dirigida pelo técnico pentacampeão mundial com a seleção brasileira, Luiz Felipe Scolari e teve em suas fileiras craques brasileiros como Paulinho, (ex-Corinthians) e Robinho (ex-Santos).
A Evergrande tem cerca de 200 mil funcionários e indiretamente cria mais de 3,8 milhões de empregos todos os anos, de acordo com dados de seu site.
Os problemas começaram há mais tempo, mas a bomba foi um comunicado da companhia enviado à bolsa na terça-feira (14), em que a incorporadora reportou que suas vendas mensais caíram quase 50% entre os meses de junho e agosto, passando de US$ 11 bilhões para US$ 5,9 bilhões.
O risco de colapso da gigante chinesa fez reaparecer o temor da crise financeira de 2008, que teve início com o banco norte-americano Lehmann Brothers. A falência do tradicional banco de investimento norte-americano, fundado em 1850, teve efeito dominó, com a quebra de outras grandes instituições financeiras nos EUA, no processo também conhecido como "crise dos subprimes", precipitado pela “bolha do mercado imobiliário”. Agora, um calote da dívida da Evergrande atingiria em cheio bancos, fornecedores, compradores de residências e investidores.
Alguns dos maiores financiadores privados do mundo, como Amundi – maior gestor de ativos da Europa –, Ashmore, UBS, BlackRock e HSBC têm altas quantias em títulos da Evergrande.
Além do risco de crise bancária, os problemas da incorporadora chinesa afetam outras grandes incorporadoras imobiliárias e o vasto seguimento de fornecedores de produtos do setor. O setor imobiliário é o maior “contribuinte” para o PIB do país. Diretamente, fornecedores da Evergrande e empreiteiros correm risco.
Há ainda os milhões de compradores de imóveis e pequenos investidores, que têm feito protestos pelo país nos últimos dias. Em meio ao caos, a empresa vem procurando dar garantia de entrega de todos os projetos pré-vendidos, o que tem aliviado um pouco a tensão entre compradores.
A expectativa em todo o mundo é que o governo chinês – que neste ano decidiu impor a política chamada de “Três Linhas Vermelhas”, que atingiu em cheio gigantes endividados do setor imobiliário – encontre uma saída, permitindo uma reestruturação gerenciada da companhia, em que outros incorporadores assumam os projetos incompletos da Evergrande.
A aposta é que as autoridades chinesas não vão salvar a Evergrande, mas vão intervir, oferecendo liquidez, para garantir que pelo menos o sistema financeiro mais amplo não entre em crise.
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