A história de José Alberto Mujica ganhou o mundo quando ele foi eleito presidente do Uruguai, em 2009. Nos anos de 1960, Pepe Mujica, como é conhecido popularmente, integrou a guerrilha Movimento de Libertação Nacional Tupamaros (MLNT). Em 2010 foi a vez de Dilma Rousseff, ex-militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), ser eleita presidente do Brasil, a primeira mulher no cargo. Mas Mujica e Dilma podem não ser os únicos na galeria de ex-guerrilheiros sul-americanos que chegaram à Presidência de seu país. Gustavo Petro, que integrou a extinta guerrilha nacionalista M-19, lidera com folga as pesquisas de intenção de voto na Colômbia e deve, de acordo com todas as análises, ser o vencedor do primeiro turno da eleição presidencial do próximo domingo, dia 29 de maio.
Gustavo Petro entrou para a guerrilha quando estava com 17 anos de idade. Seu codinome era “Comandante Aureliano”, em referência ao personagem Coronel Aureliano Buendia, da obra Cem Anos de Solidão, do Prêmio Nobel de Literatura Gabriel García Márquez. O coronel promoveu 32 revoluções armadas em sua luta liberal contra governos conservadores e perdeu todas.
O M-19, de Petros, seguia linha próxima dos Tupamaros (de Mujica), no Uruguai, e dos Montoneros, na Argentina. Nascido em 1960, na pequena cidade de Ciénaga de Oro, no Caribe colombiano, Petro vem de família de classe média baixa. Seu pai era professor. Foi preso em 1985 e passou um ano e meio na prisão, onde, segundo os relatos, foi torturado. Após esse período, Petro atuou no processo de desmobilização do M-19, acordado com o governo de Virgílio Barco, colocando fim à guerrilha.
Os adversários políticos do favorito nas eleições colombianas do próximo domingo têm usado a participação de Petro na guerrilha como instrumento de campanha. Mas essa estratégia rendeu pouco resultado, principalmente pelo fato de o candidato da coalizão de partidos de centro-esquerda e de esquerda Pacto Histórico ter construído uma carreira política consistente. O agrupamento que dá apoio a ele se define como social democrata e progressista, com a união de legendas partidárias diversas, como a centrista Aliança Democrática Ampla, a centro-esquerdista Colombia Humana (de Petro) e a esquerdista Unión Patriótica.
A ascensão de Petro na política colombiana teve início nos anos de 1990, quando foi eleito para a Câmara dos Deputados e logo depois para o Senado. No Legislativo, ganhou destaque ao denunciar o escândalo da 'parapolítica' – a relação entre parlamentares e paramilitares. Com a popularidade, em 2012 venceu a eleição para prefeito de Bogotá.
Esta é a terceira vez que Petro tenta chegar à Presidência da Colômbia. Em 2010 ficou em quarto lugar, com 9,13% dos votos. O vencedor foi o candidato de direita Juan Manuel Santos. Em 2018, Petro ficou em segundo lugar, com 25,09% dos votos, o que garantiu a ele lugar no segundo turno, mas foi derrotado pelo atual presidente, de direita, Iván Duque Márquez.
Agora em 2022, Gustavo Petro tem, na média das pesquisas, entre 36% e 45% das intenções de votos. Entre suas propostas de governo estão a inclusão das mulheres na política e na economia colombiana; ampliação de fontes de energia limpa; mudança no modelo econômico, com investimentos na agricultura e pecuária; implantação de uma programa de reforma agrária; fim do serviço militar obrigatório; acesso à internet a todos; combate à corrupção e desvios de recursos públicos; e reforma tributária com taxação das grandes fortunas.
Caso tenha segundo turno, o adversário de Petro é uma incógnita. Rodolfo Hernández e Federico (Fico) Gutiérrez disputam o segundo lugar com maiores chances. Na média das pesquisas, Hernández teria mais chance de vencer Petro numa eventual segunda volta.
Rodolfo Hernández é classificado por muitos como o “Donald Trump” da Colômbia. Engenheiro civil, fez fortuna no negócio da construção de moradias sociais nos anos de 1990. Ele lidera a Liga de Governantes Anticorrupção (Liga), um movimento que se propõe como alternativa aos partidos políticos tradicionais.
O outro adversário, Fico Gutiérrez, também é engenheiro civil. Foi prefeito de Medellín, uma das cidades mais importantes do país, e atuou em outros países, como Argentina e México, na área de seguridade urbana. Candidato pelo Partido Liberal, Fico tem apoio da coalizão Equipe pela Colômbia, que reúne partidos de direita e de centro-direita.
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