As regulamentações de quarentena, com fechamento parcial de portos, interrupção em setores do transporte aéreo e rodoviário, restrições nas fronteiras e bloqueios comerciais, potencializam os riscos de uma ‘pandemia de fome’ sem precedentes nas últimas décadas no mundo. O alerta é feito pelo diretor-geral da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Dongyu Qu, que substituiu o brasileiro José Graziano da Silva no comando da organização em 2019.
“As restrições de transporte podem afetar drasticamente o fornecimento de fertilizantes, medicamentos veterinários e outros insumos agrícolas. Enquanto isso, os restaurantes fechados e as visitas às compras menos frequentes estão restringindo a demanda e acabando com a produção. No Ocidente, a mobilidade reduzida da mão-de-obra ameaça deixar algumas culturas sazonais apodrecendo nos campos e privar os produtores de seus meios de subsistência”, escreveu Dongyu Qu em artigo publicado na última semana.
O dirigente observa que cidadãos bem nutridos em países ricos podem passar alguns meses sem enfrentar problemas de acesso a alimentos, mas no mundo em desenvolvimento a realidade é outra e uma criança que passa fome em tenra idade será atrofiada por toda a vida.
“No hemisfério norte, o fechamento de escolhas é um inconveniente para os pais. Plataformas de e-learning à parte, também é um revés educacional para os alunos, especialmente se isso implica adiar os exames. No entanto, por mais desanimador que isso seja, não é uma ameaça vital. Por outro lado, para muitas crianças no hemisfério sul – 85 milhões apenas na América Latina e no Caribe – o fechamento das escolas significa não ter mais refeições escolares. O que, por sua vez (em algumas famílias africanas em particular) significa o fim da única refeição quente que alguém entre os membros da família receberia por dia”, enfatiza o diretor.
Para evitar que a catástrofe social decorrente da pandemia de coronavírus seja potencializada por medidas equivocadas de governantes, as quais podem levar ao aumento da fome, a FAO defende que os governos, mesmo que priorizem as metas de saúde pública, devem fazer tudo o que estiver ao seu alcance para manter abertas as rotas comerciais e as cadeias de suprimentos alimentícios.
“Os formuladores de políticas devem, sem demora, reunir representantes da indústria de alimentos e agricultores para identificar gargalos e encontrar maneiras de amenizá-los. Eles devem decidir quais categorias de trabalhadores agrícolas devem ser designados como funcionários críticos e – embora de modo algum prejudicar as devidas medidas de proteção – permitir que continuem se movendo e trabalhando conforme necessário. Os sistemas devem ser alinhados para garantir que as informações globais sobre preços, consumo e estoques de alimentos fluam amplamente e em tempo real”, apela Dongyu Qu.
O diretor da FAO diz que as medidas de isolamento são necessárias e a preservação da vida diante de uma ameaça à saúde são fundamentais, mas enfatiza que, muitas vezes, medidas equivocadas de fechamentos gerais, controles comerciais mais rígidos e políticas voltadas para o interior tendem a ser míopes. “O coronavírus está ameaçando desligar o mundo como o conhecemos. Não devemos facilitar seu trabalho”, prega.
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