A partir da vida e obra dos escritores Jorge Luis Borges, João Cabral de Melo Neto e James Joyce, Julián Fuks constrói pequenas histórias fragmentadas de momentos da trajetória de cada um desses autores, que possuem em comum a cegueira precoce ou tardia. Cenas da criação de poemas, contos, ensaios, romances são abordados de forma original, como uma ficção sobre outra ficção. HISTÓRIAS DE LITERATURA E CEGUEIRA acaba de sair da gráfica da Editora Record para as livrarias.
Julián Fuks
Editora Record
160 páginas
Preço: R$ 30,00
Formato: 14 x 21 cm
ISBN: 978-85-01-07943-5
HISTÓRIAS DE LITERATURA E CEGUEIRA é um híbrido entre ensaio e ficção. A partir da vida e obra dos escritores Jorge Luis Borges, João Cabral de Melo Neto e James Joyce, Julián Fuks constrói pequenas histórias fragmentadas de momentos da trajetória de cada um desses autores, que possuem em comum a cegueira precoce ou tardia. Cenas da criação de poemas, contos, ensaios, romances são abordados de forma original, como uma ficção sobre outra ficção.
“Acho que o que essas histórias transmitem é que sempre se produz uma relação muito pessoal e particular com a cegueira. Há os que conseguem fazer dela quase que um atributo, uma condição que lhes concede uma singularidade (e por isso até apreciável, em se tratando de um mundo tão homogêneo), e os que se deixam abater pelas impossibilidades que ela provoca e nunca superam essa frustração.”, diz o autor.
Borges, míope desde a infância e tendo acompanhado o enceguecimento do próprio pai, conhecia bem o mal que o destino lhe reservava e, ao longo dos anos, apenas foi se conformando com isso. Estava preparado, então, e quem sabe até satisfeito com a demora, quando aos 56 anos finalmente ficou cego. Já tinha armado a infra-estrutura de que necessitava. A mãe, a irmã, os amigos que o cercavam não se incomodariam em ler para ele tudo o que desejasse, e menos ainda em pôr no papel o que se desprendesse dos lábios dele, os versos que ditasse. Em pouco tempo, aquilo se converteria em ritual e já quase não o incomodaria, persistindo assim nos trinta anos seguintes.
Para João Cabral, a história foi muito diferente. A cegueira o pegou de surpresa e obscureceu os últimos sete anos de sua vida, que ele acabou vivendo tristemente trancafiado num apartamento da praia do Flamengo. Já quase não escreveu mais nenhum verso e tinha tremenda dificuldade em se concentrar na audição, de modo que tudo o que liam para ele acabava acarretando um sofrimento, pela incompreensão de que se via vítima. A cegueira representou, portanto, o fim de sua vida devotada à literatura.
Joyce, por fim, teve uma cegueira peculiar, marcada por surtos de dor aguda e por operações sucessivas praticamente inúteis. Por algumas superstições que carregava desde menino, ele sempre a compreendeu como um castigo dos deuses, que o estariam punindo pelos pecados passados (lembrando que sua formação havia sido dentro de um catolicismo rígido) e pela vida desregrada e tumultuosa que levava. Dessa forma, ele sempre amaldiçoou a cegueira e nunca se rendeu a ela, lutando para ignorá-la mesmo nos momentos mais críticos e seguir trabalhando, ditar da maneira que podia, revisar o que alguém lhe lesse. É claro que nisso se reflete também a obsessão com que ele se dedicava à escrita.
Para Silviano Santiago, que assina a orelha, HISTÓRIAS DE LITERATURA E CEGUEIRA é um livro notável e imperdível.
Quem é
Julián Fuks é paulistano e nasceu em 1981. Escritor e jornalista, é autor de Fragmentos de Alberto, Ulisses, Carolina e eu (contos, 2004) e mestrando em literatura hispano-americana na Universidade de São Paulo. É colaborador da revista Entrelivros e foi repórter de literatura da Folha de S. Paulo.