O anúncio da Editora Abril de que deixará de publicar a Playboy desencadeou uma onda de lamentos dos viúvos da revista. Houve reclamações, seções em jornais e sites do tipo “veja as melhores capas” ou “as capas históricas” e até análises para entender o enterro de uma publicação que já estava morta há algum tempo.
O fim da Playboy já vai tarde. A única coisa que se pode lamentar é a perda de empregos por parte de quem fazia a revista. Quanto ao seu objetivo, não havia nada de virtuoso.
Qual a grande contribuição da Playboy para a sociedade brasileira? Mostrar celebridades nuas?
Há jornalistas que julgam sérios, os quais trabalharam na revista, que defendem a publicação sob o argumento de que a Playboy conseguiu se firmar como séria, relevante, não restrita a mulheres nuas.
Havia, sim, um trabalho jornalístico considerável na Playboy, mas isso não poderia justificar a sua finalidade última: a exposição pública de sexo para ganhar dinheiro.
Muitas pessoas que participam de movimentos de defesa dos direitos das mulheres acusam publicações como a Playboy – que agora estão desaparecendo em todo o mundo – de servir como canal de exploração do corpo feminino. Outros levam em consideração o comércio de sexo.
Os críticos têm como base para seus argumentos o fato de que, por décadas e décadas, a Playboy pagou altos cachês para convencer “famosas” a tirar a roupa para expor suas intimidades publicamente.
Não se trata de reacionarismo contra a sensualidade e o erotismo na arte. São muitas as obras de grandes pintores ou ensaios fotográficos que retratam o nu, a sensualidade – tanto masculina quanto feminina – e o erotismo num contexto da arte. O problema está na finalidade principal da revista: a mercantilização do corpo humano.
Há críticas legítimas contra o utilitarismo, mas em vários setores da economia, da política e da cultura, cada vez mais fica comprovado que determinadas atividades podem ser substituídas por outras mais relevantes à sociedade. O comércio do corpo humano, seja de homem ou de mulher, para satisfazer taras é contestável.
Um exemplo que comprova essa tese são os bingos. Quando se espalharam pelo país, em várias grandes e médias cidades se instalaram “os palácios da jogatina”. Esses monumentos ao vício, à sonegação e lavagem de dinheiro oriundo do crime, não produziam nada, a não ser mais viciados em jogos.
Com o fim dos bingos, as construções destinadas ao jogo se transformaram em locais de atividades produtivas. Hoje, os espaços antes ocupados pelo jogo de azar geram muitas vezes mais empregos, serviços e renda. Há até locais destinados à arte e ao lazer saudável.
É praticamente certo que no lugar da Playboy surgirão outras publicações que possam contribuir com a educação, saúde, política, economia, lazer, arte e cultura da população brasileira.
Os bons profissionais que vierem a perder o emprego com o fim da Playboy certamente conseguirão um trabalho de maior relevância.
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