O anúncio do fechamento do Liceu Coração de Jesus, uma instituição de ensino fundada há 137 anos, no Campos Elíseos, região central de São Paulo, provocou indignação. Não é para menos: em um país com dificuldades em oferecer escolas com estrutura adequada, carência de condições materiais nas instituições, déficit de ensino profissionalizante, elevados índices de repetência, baixa permanência dos alunos nas escolas e altas taxas de abandono de alunos, entre outras mazelas, a redução de oferta na deficitária rede educacional do país traz preocupação.
O encerramento das atividades do Liceu, que já chegou a ter 3 mil alunos, tem um significado mais amplo: o da derrotada da sociedade brasileira para a violência, a miséria, o tráfico de drogas, a ineficiência do Estado em atender necessidades básicas nas áreas de educação, saúde e segurança. O colégio, um dos mais tradicionais do país, onde estudaram milhares de brasileiros, muitos deles conhecidos, como o ator Grande Otelo e o músico Toquinho, encontra-se hoje sufocado pela insegurança em seu entorno – assaltos, tráfico, alta concentração de consumidores de drogas nas ruas (cracolândia) e prostituição.
O trancamento das portas do Liceu para o ensino simboliza não só um problema na educação. Retrata também a deterioração social e econômica de regiões da maior e mais rica cidade do país que antes eram exemplos de desenvolvimento. Localizada próximo à praça Júlio Prestes, a instituição de ensino foi erguida em uma região rica em arquitetura, com inúmeros prédios históricos, ruas arborizadas, e facilidades de acesso ao sistema de transporte público.
O Liceu é uma instituição privada, da Igreja Católica (Salesianos), mas é preciso interação entre o poder público e a igreja para que a estrutura não fique abandonada enquanto milhares de crianças carentes precisam de escolas de qualidade, bem equipadas.
Assim como o problema sem solução da despoluição dos rios Tietê e Pinheiros – por incompetência de gestores públicos, corrupção e desvio de recursos -, a recuperação e o estabelecimento de condições dignas de vivência de determinadas regiões do centro de São Paulo são inadiáveis.
Nas grandes cidades do mundo em que não se perdeu o senso de civilidade, o centro antigo continua vivo, as pessoas podem morar, estudar, ter suas atividades de lazer e cultura. Em São Paulo não: os ricos e a classe média alta vivem em suas prisões de luxo - condomínios fechados com seguranças particulares armados, bairros elitizados com casas reforçadas por meio de cercas elétricas, muros de três metros ou mais de altura e câmeras conectadas a empresas de segurança, além de ruas vigiadas por profissionais de vigilância armados 24 horas por dia.
Os filhos das classes de maior poder aquisitivo são levados às escolas em carros blindados e ninguém pode colocar um pé para fora das instituições de ensino. O paulistano, da mesma forma que muitos moradores de capitais e grandes cidades brasileiras, perdeu o sentido de liberdade, de poder andar livremente por onde bem deseja. Perdeu-se o direito de ir e vir.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS