Dos indicadores com maior potencial para pressionar a aprovação do governo Lula em 2023, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deve ser o maior desafio. As projeções apontam para uma expansão pífia da economia, o que poderá levar a comparações com o último ano do governo Bolsonaro, que pode terminar com crescimento acima de 2,7% nos 12 últimos meses. Sobre outros dois indicadores, inflação e pobreza, que têm forte peso na popularidade, há estimativas de que poderão ser favoráveis a Lula. As previsões indicam queda gradual da inflação no Brasil e mundo. Também há possibilidade de redução da pobreza como consequência do auxílio aos mais pobres.
Diversas instituições e economistas vêm revisando periodicamente para cima a projeção de crescimento do PIB brasileiro para este ano. No mês passado, o Fundo Monetário Internacional (FMI) ampliou a estimativa de expansão do PIB do Brasil em 2022 para 2,8%, ante 1,7%, feita em julho. O Banco Mundial também ampliou de 1,5% para 2,5%. A estimativa do Boletim Focus - relatório divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central – da última semana foi de crescimento de 2,76% contra 2,7% de um mês atrás. Em contrapartida, todas essas instituições veem um cenário ruim para 2023, primeiro ano do governo Lula.
De acordo com o Banco Mundial, no próximo ano a previsão de crescimento da economia brasileira é de apenas 0,8%. O FMI vai no mesmo tom, com estimativa de 1%. O Boletim Focus da última semana elevou a projeção de expansão do PIB em 2023 de 0,64% para 0,70%, ante 0,54% um mês antes. Apesar da melhora, o índice é muito baixo, praticamente estagnação.
A expectativa de Lula é que não passe de uma “marolinha”, como ocorreu na crise de 2008, em seu segundo mandato. Naquela época, a recessão no Brasil durou apenas um semestre, registrando aumento de 1,9% do PIB no segundo trimestre de 2009, após queda nos dois trimestres imediatamente anteriores. Também houve rápida recuperação do real.
Se o PIB é motivo para tirar o sono do futuro governo, as previsões para a inflação são mais tranquilizantes. Pela estimativa do Boletim Focus da última semana, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do país, subiu de 5,61% para 5,63% para este ano. A estimativa está abaixo do registrado nos 12 meses até outubro, de 6,47%. Mas para 2023, a projeção da inflação ficou em 4,94%, ou seja, uma leve queda.
A previsão de inflação no Brasil abaixo de 5% no próximo ano leva em conta a expectativa da União Europeia de que o pico inflacionário da Europa está próximo e que a partir de 2023 ocorra desaceleração para 6,1% na zona euro e 7% na UE. Também considera a inflação anual dos Estados Unidos, que, depois de atingir 8,2% em setembro, caiu para 7,7% em outubro. O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) projeta recuo da inflação para 2,8% em 2023.
O terceiro indicador de forte influência na aprovação do governo – e que ganhou maior atenção durante a campanha eleitoral – é o índice de pobreza. Nesse ponto, o governo Lula depende da aprovação da chamada proposta de emenda constitucional (PEC da Transição) – também apelidada de PEC Emergencial, PEC do Bolsa Família e até de PEC de quebra do teto, para os críticos da medida.
Os ventos estão favoráveis a Lula até o momento para aprovação da PEC. A proposta deve tirar do teto de gastos um valor de R$ 175 bilhões em 2023 e ter duração de ao menos quatro anos, de acordo com o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), representante da equipe de transição do governo Lula para o Orçamento. Nas contas do senador, há necessidade de R$ 52 bilhões para colocar mais R$ 200 acima dos R$ 400 que estão previstos no orçamento, mais R$ 18 bilhões para garantir o benefício de R$ 150 aos filhos.
Com o valor de R$ 600 do Bolsa Família, mais R$ 150 por filho, avalia-se que o índice de pobreza no Brasil terá queda durante 2023, considerando a garantia de renda à parcela das famílias de baixo poder aquisitivo.
A sorte do novo governo Lula no primeiro ano de mandato depende ainda de uma série de outros fatores, como aumento do investimento externo no país e a queda da cotação do dólar. Neste último fator, várias instituições e analistas apostam em manutenção de valor próximo ao praticado em 2022. O Banco Central projeta R$ 5,20 para a moeda norte-americana, mas há previsões piores, como a do banco francês Société Générale, que estima pico de R$ 5,95 para meados de 2023.
O desemprego é também fator decisivo para a aprovação do governo. A aposta é que se mantenha estável em 2023, na faixa de 8%, considerando as fracas projeções para crescimento do PIB. Qualquer índice abaixo disso seria uma grande vitória do novo governo. De outro lado, acima de 8% remeteria a comparações com o final de 2022, ainda sob o governo Bolsonaro.
Superado 2023, primeiro ano do mandado, Lula poderá navegar mais tranquilo, de acordo com a futurologia das instituições econômicas. Mas a possível tranquilidade não leva em conta imprevisibilidades.
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