Desde que a pandemia de Sars-CoV-2 se instalou, pesquisadores em todo o mundo começaram uma corrida contra o tempo para encontrar um tratamento capaz de prevenir novas infecções, curar pessoas já infectadas ou que diminua a gravidade da doença. Como uma vacina eficaz não deve ficar pronta antes do início de 2021 – isso se os ensaios forem bem-sucedidos –, a busca urgente tem como foco "redirecionar" medicamentos já existentes, indicados para outras doenças, os quais possam combater a covid-19. A boa notícia, apesar de nenhum estudo ainda comprovar que os remédios pesquisados têm eficácia, é que esses medicamentos são baratos de fabricar e podem ser produzidos em grande escala rapidamente.
Um estudo conduzido pelos pesquisadores Andrew Hill (Universidade de Liverpool), Junzheng Wang (Imperial College London), Jacob Levi (Imperial College London), Katie Heath (Burnet Institute) e Joseph Fortunak (Howard University) – publicado no Journal of Virus Eradication –, conclui que se os medicamentos reaproveitados demonstrarem eficácia contra o novo coronavírus, eles poderiam ser fabricados com lucro a custos muito baixos, por muito menos que os preços de tabela atuais.
“As estimativas para os custos mínimos de produção podem fortalecer as negociações de preços e ajudar a garantir acesso ao tratamento vital para covid-19 a preços baixos em todo o mundo”, afirmam os pesquisadores.
De acordo com a análise, muitos desses medicamentos podem ser fabricados por menos de US$ 1 por dia por paciente. Os autores do estudo observam que, se algum deles for eficaz contra o novo coronavírus, “será necessário um esforço internacional coordenado para garantir que sejam acessíveis a pessoas em todo o mundo”. Os medicamentos em questão são remdesivir, favipiravir, hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina, lopinavir/ritonavir, sofosbuvir/daclatasvir e pirfenidona.
Custo estimado de produção dos medicamentos
(por dia de tratamento, em dólares)
- Remdesivir – 0,93
- Favipiravir – 1,45
- Lopinavir/ritonavir – 0,28
- Hidroxicloroquina – 0,08
- Cloroquina – 0,02
- Azitromicina – 0,10
- Sofosbuvir/daclatasvir – 0,39
- Pirfenidone – 1,09
Os custos mínimos de produção dos medicamentos pesquisados até agora foram estimados a partir dos custos de ingredientes farmacêuticos ativos. Os dados, segundo o estudo, foram extraídos de registros globais de remessas de exportação ou análise da rota de síntese química.
Segundo os pesquisadores, para alguns dos medicamentos citados não é necessário um trabalho complexo para calcular o custo de produção. Isso porque são remédios que estão no mercado há anos. É o caso de cloroquina e hidroxicloroquina, usados para combater malária e lúpus, que são comercializados há décadas.
Para a produção em massa desses medicamentos, os pesquisadores atribuíram margem de lucro de 10% para os fabricantes. Mesmo assim, ainda existe o problema de alguns dos remédios possuírem patente. Essa barreira poderia ser quebrada, no entanto, com a determinação de tonar a fabricação genérica de todos os medicamentos que apresentarem resultados positivos no tratamento da covid-19.
No mês passado, centenas de organizações da sociedade civil, lideradas pela ONG Médicos Sem Fronteiras, enviaram uma carta aberta à Gilead Sciences, fabricante do medicamento remdesivir, pedindo para que a empresa tome medidas imediatas para garantir rápida disponibilidade e acessibilidade de sua terapia experimental para o tratamento de covid-19. A fabricante respondeu que está aumentando a produção e que também está explorando uma parceria com o UNICEF para distribuir o medicamento globalmente.
Superados os obstáculos comerciais, outro desafio seria fazer o medicamento ou os medicamentos aprovados nos estudos em andamento chegarem a todos os cantos do planeta.
Como solução para que os medicamentos cheguem a quem precise, Andrew Hill, Junzheng Wang, Jacob Levi, Katie Heath e Joseph Fortunak propõem quatro recomendações principais:
- Tratamentos que mostrem eficácia em ensaios clínicos devem ser disponibilizado mundialmente a preços próximos ao custo de fabricação;
- Deve haver fabricação paralela por pelo menos três empresas diferentes para cada produto;
- Não deve haver barreiras à propriedade intelectual que impeçam produção em massa desses tratamentos em todo o mundo;
- Os resultados e bancos de dados de todos os ensaios clínicos devem ser totalmente acessível para que outros possam aprender com eles.
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