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Médicos estrangeiros e a tragédia da saúde no Brasil

ABr
Caos no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia, Rio de Janeiro.

Os ânimos acirrados e o corporativo prejudicam o debate sobre a vinda de médicos estrangeiros para o Brasil. Um país que em algumas regiões tem menos de 1 médico para cada grupo de mil habitantes [mínimo exigido pela Organização Mundial de Saúde] não pode se dar ao luxo de recursar profissionais com experiência comprovada em países como Espanha e Portugal. Quem prova que a formação de médicos no Brasil é melhor do que a da Espanha, por exemplo?

Nesse caso nota-se que há puro corporativo. O que o Conselho Federal de Medicina (CFM) poderia exigir é que os profissionais desses países tenham um mínimo de tempo de exercício da profissão e que tenham cumprido todas as exigências em seus países, que não respondam por nenhum processo ético, de erro médico.
Não se pode proibir que médicos que cumpriram todas as exigências de formação em seus países, que tenham experiência profissional comprovada, venham para o Brasil trabalhar em regiões onde os médicos brasileiros não querem atuar.

Um dos argumentos dos médicos brasileiros são os salários, que dizem ser baixos. Em muitos casos esse argumento é uma falácia. Há município que chega a oferecer R$ 20 mil de salário e não consegue médico. São US$ 10 mil (dez mil dólares) por mês. Por metade disso virão para o Brasil médicos de vários países.

No Chile, por exemplo, o salário do médico no serviço público, considerando sua formação, varia entre US$ 2 mil e US$ 5 mil, dependendo da quantidade de anos de atividade, conforme divulgado no portal do governo.

Na Espanha, onde há médicos que querem trabalhar no Brasil, o salário no setor público é de cerca de R$ 7,5 mil, com a carga horária de 40 horas. Em Portugal é menor ainda, média de 2,6 mil euros, pouco mais de R$ 6 mil, para clínico geral.

Há casos irônicos no Brasil, mesmo em se tratando dos médicos cubanos. Recebi um relato de um médico formado em Cuba, que pediu para não se identificar, que depois de ficar anos sem poder exercer a profissão no Brasil, finalmente venceu a burocracia e o corporativismo e hoje é, nada mais nada menos, que coordenador de um curso de residência médica.

Um argumento válido do CFM é a falta de infraestrutura no sistema de saúde. É necessário mais investimentos, postos de saúde e hospitais bem equipados, fornecimento de materiais e medicamentos, mas essa deficiência não justifica uma barreira para impedir que a população de baixa renda receba atendimento de profissionais médicos, seja da Espanha, de Portugal, Cuba ou outro país.

Há formas de resolver o problema, desde que tenhamos boa vontade. O mercantilismo em Medicina não ajuda um país pobre como o Brasil.

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