O anúncio do ex-juiz Sérgio Moro de desistência da candidatura à Presidência da República desencadeou uma série de previsões sobre o que pode ocorrer na corrida presidencial. Uma delas, debatida nos bastidores dos partidos e por lideranças de várias forças políticas, merece destaque: pelo cenário de hoje, aumentam as chances de as eleições serem decididas no primeiro turno.
Os dois nomes colocados no momento que poderiam impedir a polarização ainda maior entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro são Ciro Gomes e João Doria. Para isso, teriam que atrair a quase totalidade dos eleitores do ex-juiz, o que dificilmente ocorrerá. Na avaliação de muitos bolsonaristas e petistas, o eleitorado de Moro de dividirá, o que beneficiaria o presidente e o ex-presidente.
Na raia de corrida, o ex-ministro Ciro Gomes aproveitou os movimentos da quinta-feira para firmar posição como alternativa à polarização Lula-Bolsonaro e conquistar parte do eleitorado de Moro. “Muitos vão ceder, mas não serei eu”, escreveu o pedetista.
A conta de transferência de votos não é simples. Parte dos eleitores de Moro é ligada a lideranças do Podemos, partido que ele abandonou. O senador Alvaro Dias, por exemplo, com forte liderança no Paraná, era um dos puxadores de voto para Moro. Resta saber para que lado Dias e o Podemos vão pender na disputa presidencial.
O abandono de Moro do projeto do Podemos deixou arranhões. Em nota oficial, o partido critica o fato de Moro não ter dado satisfação à Executiva da legenda nem aos parlamentares. Na nota, o Podemos também sugere que Moro optou pelo fundo milionário do União Brasil. “O Podemos não tem a grandeza financeira daqueles que detém os maiores fundos partidários, como é sabido por todos. Mas tem a dimensão daqueles que sonham grande, com a convicção de que o projeto de um Brasil justo para todos vale mais do que o dinheiro”, divulgou o partido.
Para a surpresa de todos, tanto a Executiva Nacional quanto os parlamentares souberam via imprensa da nova filiação de Moro, sem sequer uma comunicação interna do ex-presidenciável.
Trecho da nota oficial do Podemos sobre o abandono do projeto do partido por parte de Moro.
Uma possibilidade apontada é que Moro tentará puxar votos para Doria, na costura desenhada com seu novo partido, o União Brasil. Apesar do acerto não passar de possibilidade no momento, a proximidade de Moro com Doria vem dos tempos em que o ex-coordenador da Operação Lava Jato ainda estava na magistratura.
Em 2016, às vésperas da disputa pela prefeitura da capital paulista, uma foto de Doria e o então poderoso juiz Moro, sorridentes, durante um evento promovido pelo Lide – Grupo de Líderes Empresariais, serviu para o tucano impulsionar sua candidatura. Em 2018 a cena se repetiu. Às vésperas da disputa pelo governo de São Paulo, em que Dória era pré-candidato, o então juiz fez palanque para o tucano, posando ao lado dele para fotos com as suas respectivas esposas, durante entrega do prêmio de “Personalidade do Ano” da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, no Museu de História Natural em Nova York.
Logo depois que Moro anunciou a desistência, nesta quinta-feira (31), Doria se autoproclamou candidato único da chamada terceira via. “Vamos construir a melhor via para os brasileiros. Vamos vencer o populismo, a maldade, a adversidade e a corrupção”.
A declaração representou uma resposta ao que Moro havia declarado ao anunciar sua ida para o União Brasil. O ex-juiz justificou o abandono do projeto presidencial para “facilitar as negociações das forças políticas de centro democrático em busca de uma candidatura presidencial única”.
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