Na eleição mais acirrada do Brasil desde a redemocratização, o resultado das urnas deixa uma mensagem clara da maioria dos eleitores: o país precisa de paz e entendimento, de reforço da democracia, para retomar os caminhos de crescimento econômico, de justiça social e de melhores condições de vida à população, especialmente à grande parcela que hoje vive em graves dificuldades. A maioria decidiu que é preciso resgatar a harmonia entre os poderes, assegurar o respeito às instituições, dar um basta ao ódio e à intolerância, recuperar direitos destruídos nos últimos anos, substituir a indiferença (descaso) pela empatia e governar para todos e todas, sem discriminações.
O resultado das urnas também mostra uma polarização ainda maior que a registrada no país em 2018, mas com inversão (houve aumento do número de eleitores que optaram pelo programa progressista). A vitória progressista, no entanto, não espelha a composição do próximo Congresso Nacional, que será composto por numerosa força conservadora, da qual faz parte também representantes da extrema-direita.
O próximo presidente terá de negociar com uma parcela significativa de parlamentares da Câmara dos Deputados e do Senado que foram eleitos com base no programa do presidente Jair Bolsonaro. E tem o desafio de encontrar uma saída para resolver o repudiável orçamento secreto, que garantiu até agora base de apoio a Bolsonaro, mas que é rechaçado pela população. Do lado dos oposicionistas, a expectativa é de uma oposição responsável, como se requer os regimes democráticos.
A divisão do país, entretanto, não pode se sobrepor à decisão da maioria. Os eleitores que deram vitória a Lula optaram por rejeitar uma série de ações que foram normalizadas no Brasil nos últimos anos: aumento da desigualdade entre os mais pobres e os mais ricos; volta da miséria, com milhões de pessoas com insegurança alimentar ou passando fome; indiferença diante de uma pandemia que deixou mais de 680 mil mortos; ataque às instituições para causar instabilidade e colocar em risco a democracia; retirada de direitos, especialmente trabalhistas; descuido com o meio ambiente; uso da fé para tirar vantagens eleitorais e a mistura de religião com política; ausência de políticas contra a discriminação, como discriminação social, racial e de gênero; incentivo à violência e a propagação do ódio; e disseminação de desinformação como forma de manipular as pessoas.
O resultado da eleição demonstra também que uma maioria não apoia questões como privatização de empresas estatais estratégicas, redução do tamanho e do papel do Estado, mudanças no Supremo Tribunal Federal (STF) e maior liberação de armas à população como instrumento de segurança pública.
Mas há questões que unem os dois lados do eleitorado e são esses os temas que abrem possibilidades para o próximo governo atuar de forma a unir o país. O combate rigoroso à corrupção é uma delas. Há unanimidade no país (exceto para alguns beneficiários) de que a corrupção é um mal que precisa ser extirpado.
Propostas vencedoras nas eleições precisam ser efetivadas
- Salário mínimo com aumento acima da inflação todo ano
- Isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil
- Valorização dos servidores públicos
- Milhões de empregos desde o primeiro ano de governo
- Para a juventude, formação e empregos melhores
- Salário igual para homens e mulheres
- Bolsa Família de R$ 600 e comida barata no mercado
- Desenrola Brasil para livrar famílias das dívidas
- Empreende Brasil, para você que sonha em ter o próprio negócio
Outros pontos de convergência e que abrem janelas de entendimento e pacificação do país são o fortalecimento da educação e do Sistema Único de Saúde (SUS), o resgate e maior acesso à cultura, a solução para a dívida das famílias, a simplificação do sistema tributário, o apoio ao empreendedorismo e o estímulo à ciência e tecnologia.
A proposta vencedora é pela redução de tributos dos mais pobres e do consumo, com a compensação de aumento da tributação dos mais riscos. Também venceu a proposta de aumento dos investimentos públicos como meio para impulsionar o crescimento e as atividades econômicas nos diversos setores privados.
Venceu a proposição de que a política de reajuste do salário mínimo deve levar em conta aumentos reais como forma de elevar a renda e o poder aquisitivo da grande parcela de trabalhadores e trabalhadores, além dos aposentados, que recebem o piso.
Outra urgência é a reinserção do Brasil no palco na política internacional, com ações propositivas e de liderança, com protagonismo na América Latina e entre os países do mundo em desenvolvimento. No mundo desenvolvido, a política ambiental, com destaque para a Amazônia, terá papel decisivo na reconquista da confiança.
Lula sai da eleição mais acirrada desde a redemocratização legitimado para conduzir os rumos do país. Uma oposição responsável deve ter o compromisso de não impedir a implantação, por parte do próximo governo, de medidas aprovadas nas urnas. O julgamento será novamente feito pela população nas urnas daqui há quatro anos. Sem golpes no meio do caminho.
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS