A história brasileira mostra que as classes menos favorecidas do país sempre buscaram um salvador da pátria, um ser dotado de poderes acima dos comuns mortais, capaz de resolver num toque de mágica todos os problemas sociais, políticos e econômicos.
Essa busca por um “super-herói”, que levou ao populismo e à consagração de líderes populistas, sempre foi criticada, com razão, pela parcela da população mais escolarizada. Nos últimos tempos, porém, segmentos importantes da classe média e nas elites econômicas deixam em evidência que caíram na tentação do “salvador da pátria”.
A maior manifestação política da história do país neste 13 de março transformou o juiz federal Sergio Moro no cidadão brasileiro em que grande parte da população deposita todas as suas esperanças para resolver os problemas do país.
Lembrado pela multidão por meio de faixas, cartazes, máscaras, camisetas e palavras de ordem, não só no Brasil, mas também no exterior, o juiz Moro, queira ou não, simboliza hoje o “salvador” de milhões de pessoas que veem nele a solução das mazelas históricas do Brasil. Em muitos casos chega a beirar a carência afetiva de admiradores e admiradoras, com declarações dos mais variados tons. Moro ganha até status de galã de novela, de ídolo do cinema e astro da música.
E há também aqueles que exploram as ações do juiz para tirar proveitos políticos, impulsionar suas crenças ideológicas e outros interesses.
O juiz Sergio Moro vem cumprindo sua obrigação no combate à corrupção – apesar de alguns questionamentos plausíveis de espetacularização de suas ações –, e rompeu com a tradição de juízes que aliviam denúncias contra poderosos. Mas seria uma loucura coletiva atribuir a um juiz federal a responsabilidade de resolver os graves problemas sociais, econômicos e políticos do país.
A população não deve esperar nem cobrar de Sergio Moro a solução para as misérias seculares da nação. Seria de bom senso esperar do juiz Moro a condução ética, e imparcial, das ações às quais estão sob sua responsabilidade e julgamentos isentos e justos dos acusados de desvios.
Como magistrado, Moro deve atuar de forma a não permitir o uso de seu nome em manobras políticas (partidárias) e interesses escusos. Assim estará dando a sua contribuição para que o país avance na correção de seus problemas estruturais.
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