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A Universidade de Buenos Aires (UBA) cancelou uma palestra virtual de Sergio Moro, que deixou recentemente o cargo de ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro. O ex-juiz responsável pelo julgamento de ações da Operação Lava Jato participaria do evento na maior instituição de ensino superior argentina no dia 10 de junho. A palestra intitulada Combate à Corrupção, Democracia e Estado de Direito, agendada pela Faculdade de Direito, teria “vagas limitadas” e seria realizada por meio do aplicativo Zoom.
Até esta sexta-feira (29) pela manhã, a UBA não havia esclarecido o motivo do cancelamento. Dois dos principais jornais argentinos, o Clarín e La Nacion, divulgaram a reação de Moro após o cancelamento. O ex-ministro disse que foi informado de que houve pressão política para que o evento fosse cancelado.
El próximo 10 de junio a las 10 hs. tendrá lugar la charla "Combate contra la corrupción, democracia y estado de derecho" a través de la Zoom.
— Facultad de Derecho (@DerechoUBA) May 27, 2020
Inscripción (cupos limitados): https://t.co/bcDmbS2N3Q
La actividad se transmitirá en vivo por la página de Facebook de @DerechoUBA. pic.twitter.com/LZrOlPZ0oI
“Fui convidado pela Universidade de Buenos Aires para falar sobre o Estado de Direito e a luta contra a corrupção e fui informado de que a palestra havia sido cancelada por pressão político-partidária. Não corresponde a mim avaliar os motivos”, afirmou o ex-juiz em reportagens divulgadas pelos dois jornais. “Recebi convites semelhantes de universidades do Brasil e do exterior e nunca tive este tipo de problema”, acrescentou.
No anúncio do convite para a palestra, não foi feita menção ao fato de que Sergio Moro foi ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro e que deixou o governo no dia 24 de abril, após denunciar que o presidente estaria tentando intervir politicamente na Polícia Federal. Mas no banner do evento, Moro aparece falando na frente de um dos slogans do governo de Bolsonaro, “Pátria amada Brasil”.
Le he comunicado mi renuncia al Consejo Consultivo al Dr. Balbín. https://t.co/UXogkbgzAI
— Natalia Volosin ???? (@nataliavolosin) May 27, 2020
O convite a Moro recebeu uma saraivada de protestos de governistas e acadêmicos, que o acusam de parcialidade pelo fato de ter integrado o governo Bolsonaro logo após ter condenado o ex-presidente Lula na Lava Jato. Com o cancelamento da palestra, as críticas mudaram de lado. Líderes da oposição acusaram a universidade de censura e cobraram liberdade acadêmica.
“Quero esclarecer que, embora faça parte do Conselho Consultivo, não fui consultada sobre isso (a palestra) e não aprovo”, escreveu em sua conta no Twitter Natalia Volosin, professora da cátedra de mestrado de Direito Administrativo da UBA. A professou disse que encaminhou renúncia ao Conselho Consultivo da faculdade em decorrência do episódio.
O professor de Direito Constitucional da UBA Roberto Saba também diz não ter sido consultado sobre o evento mesmo sendo membro do Conselho da Faculdade de Direito. “Também sou membro do Conselho Consultivo e não fui consultado sobre este evento, descobri por meio do Twitter. Eu nunca apoiaria a organização de uma atividade com um membro atual ou do passado do governo Bolsonaro”, escreveu.
Em nota, a Associação de Professores da Universidade de Buenos Aires (Feduba) repudiou o convite para conversar com Moro. “Repudiamos o convite da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires ao ex-juiz brasileiro Sergio Moro para participar como expositor sobre a "Luta contra a corrupção, a democracia e o Estado de Direito", diz a nota.
Várias líderes kirchnernistas se manifestaram contra o evento. A ministra da pasta “Mulheres, diversidade e gênero”, Elisabeth Gómez Alcorta, do governo de Alberto Fernádez, disse repudiar a atividade “em uma faculdade pública na qual você deve treinar para a defesa do estado de direito e de garantias constitucionais". O presidente Alberto Fernádez é formado pela Faculdade de Direito da UBA.
VERGÜENZA. Y la libertad de cátedra? Y el debate de ideas? Si donde las ideas deben multiplicarse y crecer se cae en la censura, la libertad de toda la sociedad se ve afectada. Parece que la autonomía que enorgullece al presidente @alferdez no es respetada por toda su coalición. https://t.co/poQOO9fXvk
— Esteban Bullrich (@estebanbullrich) May 28, 2020
Do outro lado, após o cancelamento, alguns juristas e líderes da oposição reclamaram do que chamaram de “censura” por parte da Universidade de Buenos Aires. Muitos internautas também questionaram a falta de pluralidade de visões da maior instituição de ensino do país.
“Vergonha. E a liberdade de cátedra? E o debate de ideias? Se onde as ideias devem se multiplicar e crescer se cai na censura, a liberdade de toda a sociedade é afetada. Parece que a autonomia de que se orgulha o presidente @alferdez não é respeitada por toda a sua coalizão”, tuitou o ex-ministro da Educação de Maurico Macri, Esteban Bullrich.