Banner de divulgação da palestra virtual com Sergio Moro na Universidade de Buenos Aires.| Foto: Divulgação/UBA
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A Universidade de Buenos Aires (UBA) cancelou uma palestra virtual de Sergio Moro, que deixou recentemente o cargo de ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro. O ex-juiz responsável pelo julgamento de ações da Operação Lava Jato participaria do evento na maior instituição de ensino superior argentina no dia 10 de junho. A palestra intitulada Combate à Corrupção, Democracia e Estado de Direito, agendada pela Faculdade de Direito, teria “vagas limitadas” e seria realizada por meio do aplicativo Zoom.

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Até esta sexta-feira (29) pela manhã, a UBA não havia esclarecido o motivo do cancelamento. Dois dos principais jornais argentinos, o Clarín e La Nacion, divulgaram a reação de Moro após o cancelamento. O ex-ministro disse que foi informado de que houve pressão política para que o evento fosse cancelado.

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“Fui convidado pela Universidade de Buenos Aires para falar sobre o Estado de Direito e a luta contra a corrupção e fui informado de que a palestra havia sido cancelada por pressão político-partidária. Não corresponde a mim avaliar os motivos”, afirmou o ex-juiz em reportagens divulgadas pelos dois jornais. “Recebi convites semelhantes de universidades do Brasil e do exterior e nunca tive este tipo de problema”, acrescentou.

No anúncio do convite para a palestra, não foi feita menção ao fato de que Sergio Moro foi ministro da Justiça e Segurança Pública de Bolsonaro e que deixou o governo no dia 24 de abril, após denunciar que o presidente estaria tentando intervir politicamente na Polícia Federal. Mas no banner do evento, Moro aparece falando na frente de um dos slogans do governo de Bolsonaro, “Pátria amada Brasil”.

O convite a Moro recebeu uma saraivada de protestos de governistas e acadêmicos, que o acusam de parcialidade pelo fato de ter integrado o governo Bolsonaro logo após ter condenado o ex-presidente Lula na Lava Jato. Com o cancelamento da palestra, as críticas mudaram de lado. Líderes da oposição acusaram a universidade de censura e cobraram liberdade acadêmica.

“Quero esclarecer que, embora faça parte do Conselho Consultivo, não fui consultada sobre isso (a palestra) e não aprovo”, escreveu em sua conta no Twitter Natalia Volosin, professora da cátedra de mestrado de Direito Administrativo da UBA. A professou disse que encaminhou renúncia ao Conselho Consultivo da faculdade em decorrência do episódio.

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O professor de Direito Constitucional da UBA Roberto Saba também diz não ter sido consultado sobre o evento mesmo sendo membro do Conselho da Faculdade de Direito. “Também sou membro do Conselho Consultivo e não fui consultado sobre este evento, descobri por meio do Twitter. Eu nunca apoiaria a organização de uma atividade com um membro atual ou do passado do governo Bolsonaro”, escreveu.

Em nota, a Associação de Professores da Universidade de Buenos Aires (Feduba) repudiou o convite para conversar com Moro. “Repudiamos o convite da Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires ao ex-juiz brasileiro Sergio Moro para participar como expositor sobre a "Luta contra a corrupção, a democracia e o Estado de Direito", diz a nota.

Várias líderes kirchnernistas se manifestaram contra o evento. A ministra da pasta “Mulheres, diversidade e gênero”, Elisabeth Gómez Alcorta, do governo de Alberto Fernádez, disse repudiar a atividade “em uma faculdade pública na qual você deve treinar para a defesa do estado de direito e de garantias constitucionais". O presidente Alberto Fernádez é formado pela Faculdade de Direito da UBA.

Do outro lado, após o cancelamento, alguns juristas e líderes da oposição reclamaram do que chamaram de “censura” por parte da Universidade de Buenos Aires. Muitos internautas também questionaram a falta de pluralidade de visões da maior instituição de ensino do país.

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“Vergonha. E a liberdade de cátedra? E o debate de ideias? Se onde as ideias devem se multiplicar e crescer se cai na censura, a liberdade de toda a sociedade é afetada. Parece que a autonomia de que se orgulha o presidente @alferdez não é respeitada por toda a sua coalizão”, tuitou o ex-ministro da Educação de Maurico Macri, Esteban Bullrich.