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Poucos dias depois da morte da rainha Elizabeth II, defensores do fim da monarquia voltaram a se mexer não só no território do Reino Unido, mas também em países que continuam reconhecendo o monarca britânico como chefe de Estado, especialmente Canadá, Austrália e Nova Zelândia. A subida ao trono de Carlos III, menos popular que sua mãe, também animou movimentos contra as monarquias de vários países europeus, como Espanha, Noruega e Holanda.
Um dos grupos antimonarquistas mais atuantes dentro do Reino Unido é o Republic. Antes das comemorações dos 70 anos de reinado de Elizabeth II, em junho passado, o movimento espalhou painéis em várias cidades com a frase Make Elizabeth the last (Faça de Elizabeth a última, em tradução livre). Agora com a morte da rainha, o grupo publicou em seu site e redes sociais um post com uma foto de Carlos III e a hashtag #NotMyKing (Não é meu rei).
O Republic luta pela abolição da monarquia britânica e defende a instituição de uma república, com o chefe de Estado eleito pela população. “Queremos ver a monarquia abolida e a rainha (agora rei) substituída por um chefe de Estado eleito e democrático. No lugar da rainha, queremos alguém escolhido pelo povo, não dirigindo o governo, mas representando a nação independentemente de nossos políticos”, diz o grupo em sua apresentação.
Enquanto o governo britânico afirma que a família real custa apenas 1 libra (R$ 6) por ano para cada cidadão inglês, o Republic diz que esse valor supera 5 libras (cerca de R$ 30), o que resultaria em gasto de mais de 350 milhões de libras (R$ 2 bilhões).
Na Austrália, líderes políticos contrários à permanência do rei Carlos III como chefe de Estado já se movimentam. Em 1999 o país decidiu colocar a questão para a população decidir e 55% votaram pela manutenção da monarquia. Mas o apoio ao sistema monárquico vem perdendo força. Levantamentos recentes mostram que mais de 60% desejam um chefe de Estado australiano.
O primeiro-ministro Anthony Albanese, no cargo desde maio deste ano, é republicano e defensor de mudanças. Logo após tomar posse, Albanese criou o cargo de ministro adjunto para a República, ligado ao seu gabinete para acompanhar o processo de transição para o regime republicano.
Na Nova Zelândia, a primeira-ministra Jacinda Ardern declarou em 2018 esperar ver o país tornar-se numa república enquanto for viva, mas recuou em seguida e disse que o tema não era prioritário. Pesquisas no país mostram que há divisão, com os mais jovens inclinados para a república e os mais velhos firmes na defesa do status atual. Em 2016, os eleitores neozelandeses votaram contra mudanças na bandeira nacional, permanecendo o símbolo do Reino Unido no canto superior esquerdo da bandeira do país.
No Canadá, um levantamento da Nanos Research, em maio, mostrou que quatro em cada 10 eleitores queriam cortar os laços do Canadá com a coroa britânica. A expectativa de analistas é que, com a morte da rainha, muito popular no país, o contingente de pessoas a favor da retirada do monarca britânico como chefe de Estado canadense passe a ser maioria.
Em todos esses países e, especialmente dentro do Reino Unido, os defensores do fim da monarquia apostam que o apoio ao rei Carlos III será bem menor que o dado a Elizabeth II. Na época das festividades dos 70 anos de reinado, Elizabeth chegou a ter aprovação de mais de 80% dos britânicos, segundo pesquisa do instituto YouGov. O herdeiro do trono, no entanto, ficava com 54%. Entre os mais jovens, de 18 a 34 anos, o apoio ao sistema era de 51%.
Um movimento mais amplo contra as monarquias na Europa é denominado pela sigla AERM, que significa Aliança dos Movimentos Republicanos Europeus e reúne grupos republicanos nacionais (anti-monarquia) de cada uma das maiores monarquias europeias. A organização é composta por movimentos de diversos países, como Espanha, Noruega, Suécia, Holanda, Dinamarca e Bélgica.
“A Holanda se tornará um pouco mais justa, mais democrática, mais transparente e mais eficiente se abolirmos a monarquia e a substituirmos por uma república parlamentar. Em uma república parlamentar você nasce com direitos e deveres iguais. Todos têm a chance de se tornar chefe de Estado, têm que pagar impostos e são livres para expressar sua opinião”, prega o movimento Republiek.
“Igualdade, liberdade e uma compreensão do jogo limpo são o que queremos ser conhecidos no mundo, e provavelmente também o que mais amamos na Dinamarca. Esses valores são bastante incompatíveis com o poder herdado, privilégios e títulos de alteza”, diz em seu site a organização dinamarquesa Republik NU.
Nesses países, assim como no Reino Unido, o apoio às monarquias é maior entre os mais velhos. As camadas mais jovens da população tendem, em grande parte, a sustentar propostas de mudanças no sistema. Os exemplos seguidos por grande parte da juventude são Alemanha, Estados Unidos e França, países em que o Estado não sofre interferência de família real.