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Certas Palavras

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Concurso público

A história da “mulher branca” acusada de entrar na Polícia Federal por cota racial

cota racial - Polícia Federal
Glau Dias divulgou fotos da mãe e da avó para confirmar que é negra. (Foto: Reprodução/Instagram)

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No mundo instantâneo das redes sociais, em que a cada segundo surge uma nova polêmica, a história de Glaucielle da Silva Dias – mais conhecida como Glau Dias – ultrapassou a barreira do “é apenas mais um caso” e ganhou espaço país afora. O ‘escândalo’ envolvendo cota racial em concurso público começou com uma notícia publicada pelo portal Painel Político e logo se espalhou para outros sites e jornais.

“Candidata branca é aprovada na PF em cota para negros após se pintar para tentar burlar processo”; “Mulher branca aprovada em concurso da PF por meio de cotas pede exoneração”; “Policial federal pede exoneração após internet denunciar fraude em cota racial”. Essas são algumas das dezenas de manchetes que pipocaram na mídia após o caso vir à tona.

cota racial - Polícia Federal - Glau DiasImagem que viralizou nas redes sociais, com Glau Dias no dia da banca examinadora e depois: ex-policial federal acusa uso de filtro nas fotos. (Foto: Reprodução/Facebook)

A ‘condenação pública’ de Glau seria unânime não fosse outra versão do caso, narrada por ela própria, por familiares, conhecidos e fãs nas redes sociais.

“Nunca me escondi de nada e nunca vou me esconder. Fui a primeira da minha família a ter curso superior. Eu não fiz nada de errado. Minha mãe é negra, minha avó é negra, toda a família é negra. Estudei sempre em escola pública. Estou sendo julgada por pessoas que não me conhecem e não conhecem minha história”, declara Glau Dias em vídeo, ilustrado com fotos da mãe e da avó, ambas negras.

Segundo publicou o portal Painel Político, “Glaucielle da Silva Dias, uma mulher branca, passou em concurso da Polícia Federal na cota destinada a candidatos negros. Ela pediu exoneração da Polícia Federal após ser denunciada por um perfil no Twitter por fraudes durante sua entrevista no concurso. Glaucielle Dias teria se trajado de negra para passar pela banca examinadora. O marido de Glaucielle Dias, que também pediu exoneração da PF, usou a conta do instagram dela para se retratar sobre o caso”.

O texto publicado pelo portal, com fotos comparativas – uma mostrando Glau com o cabelo encaracolado e a pele preta e outra em que ela está com o cabelo castanho claro e a pele também clara –, serviu de fonte não só para a disseminação no Facebook, Instagram, Twitter e outras redes sociais como também alimentou diversos veículos de comunicação.

Imagem de divulgação de cursos ministrados por Glau Dias e seu marido. (Foto: Reprodução/Instagram)

Atualmente, Glau Dias usa as redes sociais para promover aulas motivacionais que leciona com o marido sobre concursos públicos. “O segredo da aprovação” e “a dica de ouro para ser aprovado” são alguns dos módulos de seu curso on-line. No Instagram, ela conta com mais de 170 mil seguidores.

Os advogados de defesa de Glau Dias divulgaram nota em que afirmam que as fotos que viralizaram nas redes, de fato, foram tiradas pela banca examinadora do Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), responsável pelo concurso em questão. A nota diz ainda que sua cliente se declarou como negra no concurso e citou o “difícil histórico familiar” da candidata, o qual, de acordo com ele, teria “sensibilizado” os examinadores.

Antes de ser exonerada da PF, a seu pedido, no último dia 3, Glau foi promovida a Chefe do Núcleo de Operações de Delegacia de Polícia Federal em Guajará-Mirim, em Rondônia, conforme portaria de nº 12.863, publicada no dia 24 de maio de 2020.

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Em vídeo postado nas redes sociais nesta quinta-feira (17), a ex-policial federal narra a sua versão da história. Relata, com apresentação de fotos, ter mãe e avó negras. Diz que fez plástica no nariz para resolver uma insatisfação pessoal e que alisa o cabelo diariamente, assim como faziam sua mãe e sua avó.

Glau também acusa falsificação das fotos em que ela aparece com a pele preta e critica o fato de terem comparado fotos sobre as quais foi aplicado um filtro, de tal modo que ela aparece com a pele branca. Sobre o cabelo encaracolado, Glau afirma que no dia da banca não tinha feito alisamento porque queria se apresentar da forma como ela é biologicamente.

Glau Dias confirma que quem fez a foto que viralizou foi a banca examinadora e que cinco pessoas a examinaram. “Eles me viram de perto. São cinco profissionais na banca, que poderiam verificar qualquer irregularidade. Eu não sou branca, não posso dizer que sou branca. Isso é um fato. Não vou negar minhas origens. Todas as pessoas que me conhecem estão abismadas”, ao negar fraude em cota racial.

A ex-policial relata que não consta nada contra ela na Polícia Federal, nenhum processo administrativo e que pediu exoneração para cuidar de outros projetos.

Glau Dias reproduziu fotos suas feitas no dia da banca do concurso para a Polícia Federal. (Foto: Reprodução/Instagram)

Emocionada e em tom de desabafo, Glau defende que não há crime em alisar o cabelo. “O que é crime é ofender as pessoas”, afirma ao acrescentar que todas as providências estão sendo tomadas contra aqueles que a agrediram e que a acusam de burlar a regra de cota racial em concurso público.

“Nunca vou dizer que sou algo que não sou. Eu sou uma parda-negra e tenho um orgulho enorme dessa condição”, finaliza.

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