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Em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, as transações comerciais do Brasil com a China e os EUA ficaram praticamente estagnadas. A única alteração foi um pequeno aumento das importações de produtos norte-americanos. Agora em 2020, segundo ano de Bolsonaro, os resultados são totalmente diferentes: enquanto os negócios com a China tiveram forte crescimento, com os norte-americanos registraram queda acentuada.
Os dados compilados pelo Comex Stat, sistema do Ministério da Economia que fornece um banco de dados do comércio exterior brasileiro, mostram que a retórica do governo brasileiro contra a China no ano passado e a aproximação com o governo do ex-presidente Donald Trump tiveram resultados comerciais divergentes.
As exportações brasileiras para a China saltaram de US$ 63,4 bilhões para US$ 67,8 bilhões. Isso representa quase um terço dos cerca de US$ 209 bilhões que o Brasil vendeu para o exterior.
Do outro lado, as exportações para os EUA sofreram queda recorde. As vendas brasileiras para os norte-americanos caíram de US$ 29,7 bilhões em 2019 para US$ 21,5 bilhões no ano passado.
A redução das transações com os EUA no segundo ano do governo Bolsonaro também se verifica nas importações. As compras de produtos norte-americanos caíram de cerca de US$ 30 bilhões em 2019 para pouco mais de US$ 24 bilhões em 2020. Em contrapartida, as compras brasileiras na China ficaram estagnadas, com uma pequena baixa, de cerca de US$ 35 bi em 2019 para US$ 34 bi no ano passado.
Historicamente, os dados mostram que as exportações brasileiras para os EUA no segundo ano de Bolsonaro regrediram aos níveis de 2004, com exceção de 2009 e 2019, quando a crise econômica mundial afetou os negócios globais. Já as importações sofreram forte queda após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em 2013, por exemplo, no primeiro mandato de Dilma, as compras brasileiras nos EUA chegaram a um recorde de US$ 36 bilhões.
Com a China, ao contrário do que ocorreu com os EUA, as negociações cresceram praticamente sem interrupção nas duas primeiras décadas deste século. De pouco mais de US$ 2,5 bilhões no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), as exportações para os chineses chegaram agora em 2020 a mais de US$ 67 bilhões. As importações também cresceram, de cerca de US$ 1,5 bi em 2002 para mais de US$ 34 bi em 2020.
Para muitos analistas econômicos e de comércio exterior, os negócios Brasil-China durante os dois últimos anos do governo Bolsonaro (2021 e 2022) tem tudo para crescer ainda mais. Isso porque o país asiático se saiu melhor que concorrentes ocidentais no controle da Covid-19 e na administração de sua economia durante a crise.
Por outro lado, as transações com os EUA são uma incógnita. O governo de Joe Biden tem dado sinais dúbios em relação ao Brasil. Mas a vacinação em massa dos norte-americanos promete uma recuperação rápida da economia, o que pode mudar o cenário atual e aquecer os negócios com o Brasil.