Os presidentes Evo Morales (Bolívia) e Fernando Lugo (Paraguai) e outros chefes de estado observam os lustres do salão de honra do Congresso Nacional do Chile balançando durante tremor no momento da posse de Sebastián Piñera, em 2010.| Foto:
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Várias rodovias sofreram rachaduras no asfalto, além de danos em grande parte de viadutos e pontes. Muitas escolas estavam fechadas e os chilenos tentavam retomar o ritmo normal da vida depois da tragédia. Mas as marcas da catástrofe estavam em toda parte. Uma curta caminhada pelas ruas da “velha” Santiago era suficiente para ver a destruição. A cada quarteirão surgiam edifícios desmoronados. Os prédios históricos foram os que sofreram maiores danos.

Minha primeira experiência com a terra tremendo aconteceu poucos minutos depois de ter feito o trajeto do aeroporto até o centro da capital. Enquanto estava parado na calçada examinando o mapa da cidade, percebi que o papel tremia. Fiquei parado e senti que o chão também balançava.

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– Está tremendo, não?, perguntei a uma senhora ao meu lado, no ponto de ônibus.
– Sim, respondeu ela, com um leve sorriso.

Foi o suficiente para perceber que os tremores de terra são rotina e não assustam tanto os chilenos.

Nos próximos dias eu iria cobrir a posse do primeiro oposicionista eleito presidente do Chile desde o fim do regime militar.

A chegada do multimilionário e direitista Sebastián Piñera à Presidência do Chile tinha pelo menos um motivo para ser um fato histórico. Afinal, depois de 20 anos de governo da centro-esquerdista Concertación, um novo grupo político havia chegado ao poder.

Mas no momento da cerimônia, o Salão de Honra do Congresso Nacional, em Valparaiso, no litoral chileno, tremeu. Os convidados, entre eles vários chefes de estado, olhavam assustados e desesperados para o teto, com os lustres balançando. Os telefones ficaram mudos.
Eu me posicionei em baixo de uma coluna da construção histórica, na esperança de que, se o teto do amplo salão desabasse, eu pudesse me salvar.

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– Foi muito forte, muito forte, declarou mais tarde o presidente do Equador, Rafael Correa.

Ao lado do paraguaio Fernando Lugo e do boliviano Evo Morales, Correa parecia ser um dos mais apavorados. O equatoriano havia sido submetido a uma cirurgia fazia poucos dias e precisava usar muletas para caminhar.

A argentina Cristina Kirchner e o peruano Alan García também não esconderam o nervosismo. O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, abandonou a sala momentaneamente temendo um desabamento.

Para a plateia nas galerias do Congresso não foi diferente. Policiais retiraram do local mulheres grávidas e outras que estavam a ponto de chorar.

Na saída, Morales demonstrou bom humor depois do susto.

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– Queria conhecer como é um terremoto. Foi o que senti, disse.

Subi a serra, de volta para Santiago, com uma certeza: “Jamais vou me esquecer do dia em que eu vi a terra tremer sob meus pés”.