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O “millennial” presidente de El Salvador que agora controla Congresso e Supremo

Nayib Bukele
Nayib Bukele começou na política pela ex-guerrilha de esquerda FMLN, migrou para a direita e criou um partido populista. o Novas Ideias. (Foto: Reprodução/Instagram)

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No dia 1º de maio, o novo Congresso de El Salvador decidiu destituir os integrantes da Câmara Constitucional do Supremo Tribunal de Justiça e o procurador-geral, Raúl Melara. Com a decisão, o presidente Nayib Bukele passou a controlar os três poderes. Em março passado, seu o partido, chamado Novas Ideias, e seus aliados haviam conquistado 64 dos 84 deputados eleitos.

A destituição dos membros da Suprema Corte foi questionada pelo governo de Joe Biden (EUA), pela União Europeia e a Organização dos Estados Americanos (OEA). No Brasil, foi elogiada pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro.

Nayib Bukele

Mas quem é, afinal, Nayib Bukele, jovem presidente que reuniu forças políticas para dominar o Legislativo, o Judiciário e o Ministério Público?

No início da campanha para a eleição presidencial de El Salvador, realizada em 2019, Bukele era visto como um candidato ‘millennial’, termo que se refere à chamada geração do milênio, geração da internet, ou 'geração Y'. Nascido em junho de 1981, ele estava na época com 37 anos. Sua campanha à Presidência foi concentrada toda nas redes sociais.

Antes de chegar à presidência, o jovem ‘millennial’ havia sido eleito prefeito da pequena cidade de Nuevo Cuscatlán, em 2012, quando tinha 31 anos de idade. Em 2015 ganhou a prefeitura da capital do país, San Salvador.

Ideologicamente, Bukele é considerado populista. Subiu na política com bandeiras da esquerda, migrou para a direita e fundou seu próprio partido, o Novas Ideias, com plataforma populista.

Bukele iniciou sua carreira política na Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional (FMLN), movimento guerrilheiro socialista que depois se converteu em partido e elegeu dois presidentes do país.

A família de Bukele era simpática aos princípios de justiça social que a FMLN defendia em seu programa, em um país marcado por pobreza, forte desigualdade social, corrupção e violência. Seus parentes chegaram a dar refúgio a guerrilheiros.

O jornalista Geovani Galeas conta, em seu livro "Quem é Nayib Bukele?", que em 1987 a família do hoje presidente de El Salvador deu abrigo ao guerrilheiro Schafik Handal, um dos cinco comandantes da FMLN.

Bukele foi expulso da FMLN em 2017, acusado de ter cometido quatro infrações graves. Segundo o Tribunal de Ética da legenda partidária, Bukele promoveu "práticas que geraram divisão interna", "fomento de comportamentos personalistas", "atos difamatórios e caluniosos que prejudicam a imagem e a honra de um membro ou militante", "desrespeitou os direitos humanos das mulheres" e violou, em geral, "a Carta de Princípios e Objetivos, os Estatutos, Regulamentos e outras regras que regem o Partido".

Nayib BukeleNayib Bukele com o presidente do México, López Obrador. (Foto: Governo do México)

Após a expulsão da FMLN, Bukele fundou o movimento Novas Ideias, na tentativa de transformá-lo em um partido para disputar a Presidência do país, em 2019. Sem conseguir organizar a legenda em tempo hábil, se filiou à Grande Aliança pela Unidade Nacional (Gana), partido conservador, de centro-direita, criado em 2010.

Em 2021, com o Novas Ideias legalizado e a popularidade em alta, Bukele conquistou o legislativo do país com uma vitória esmagadora sobre a direita e a esquerda. Com 56 dos 84 assentos no parlamento, o jovem presidente já mira ampliar os limites do mandato presidencial.

Em seu estatuto, o Novas Ideias se define como um “ partido político democrático, descentralizado, plural e inclusivo, sem ideologias obsoletas, mas na vanguarda da luta pelo reconhecimento de todos os direitos de todos os cidadãos, sem exclusões ou privilégios”. Seus princípios são: “construir um El Salvador livre, defender a diversidade de pensamento, um mercado livre e uma economia social”.

Filho de um empresário de origem palestina, Bukele enriqueceu com empreendimentos no setor de publicidade e é dono de concessionárias da Yamaha. Seu pai, Armando Bukele – falecido em 2015 –, era doutor em química industrial e construiu um império empresarial nas áreas da indústria têxtil, comércio, farmacêutica, publicidade e mídia.

Nayib Bukele ingressou no curso de direito da Universidade Centroamericana (UCA), em San Salvador, mas não se formou. Abandou os estudos aos 18 anos para trabalhar nas empresas de seu pai.

Campanha do governo de El Salvador com a violência. (Foto: Reprodução/Facebook)

Desde que assumiu a Presidência, tem adotado postura considerada autoritária. Em fevereiro de 2020, ele invadiu o Legislativo acompanhado por militares, alegando poderes divinos, sentou-se na cadeira do presidente do Parlamento e ordenou o início da sessão. O episódio ocorreu após os deputados terem se recusaram a aprovar um empréstimo de US$ 109 milhões para financiar seu programa de segurança pública.

Bukele tem governado pelo Twitter. Pelas redes sociais, ele manda ministros demitirem funcionários públicos, faz nomeações e anuncia suas medidas de governo. Também usa as redes para atacar adversários políticos, zombar da imprensa – que tem revelado inúmeros casos de suposta corrupção de seu governo –, e hostilizar defensores dos direitos humanos.

Na pandemia, adotou regras duras de isolamento social. Em março de 2020, depois de ter decretado bloqueio em todo o país, centenas de pessoas que violaram o distanciamento social foram presas e enviadas para "centros de contenção”.

Outro foco de seu governo é o combate à violência, especialmente os assassinatos – El Salvador chegou a ser o país com maior taxa de assassinatos do planeta. Opositores o acusam de ter negociado uma trégua com a Mara Salvatrucha, maior gangue de El Salvador, para colocar fim à violência. Ele rechaça as acusações e diz que é puro jogo político.

Na Presidência, negocia com governos de diferentes posicionamentos ideológicos. Rompeu relações diplomáticas com Nicolás Maduro, da Venezuela, mas estreitou laços com López Obrador, presidente de esquerda do México, e esteve com Donald Trump.

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