Idiota é quem faz idiotices. A frase é da mãe de Forrest Gump, o personagem interpretado por Tom Hanks no premiado filme de 1994 (o filme é uma adaptação do romance escrito por Winston Groom e publicado em 1985).
Olhando dessa perspectiva, os jornalistas e escritores Plinio Apuleyo Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa se enquadram no termo idiota. Os três praticaram a grande idiotice de escrever em 1996 o Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano. E se não bastasse, mostraram agora que são idiotas mais que perfeitos ao repetir a dose com A Volta do Idiota.
Os três caçadores de “níqueis” gastam muito papel para afirmar que os idiotas da esquerda são os únicos culpados pelas mazelas da América Latina. Defensores do neoliberalismo – Montaner é membro da Internacional Liberal –, em nenhum momento os autores admitem que governos de idiotas liberais foram desastrosos no continente.
No Manual do Perfeito Idiota os três escritores se baseiam em algumas verdades, como o fato de os latino-americanos acreditarem que a causa única da nossa pobreza é a riqueza dos outros. A partir dessa premissa, defendem uma tese que tem como principal argumento a afirmação de que todos estão errados, e somente eles, os idiotas mais que perfeitos, certos.
Combatem o populismo, o nacionalismo, o estatismo, o estruturalismo e o protecionismo. Para eles, todos esses “ismos” são frutos podres apenas da esquerda. Esquecem que ditaduras de direita e caudilhos de toda ordem, financiados pelos Estados Unidos, tiveram algumas dessas formas de governo como marca registrada.
No primeiro ensaio, Fernando Henrique Cardoso é o idiota símbolo. No segundo, os alvos preferidos do trio são o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales. Lula até que se saiu bem: os autores decidiram pegar leve com o brasileiro.
Talvez o menos ruim do livro é a perspicácia dos autores para cunhar termos bizarros como esquerda carnívora e esquerda vegetariana. Na primeira eles incluem Chávez, é óbvio. Na segunda, Michelle Bachelet, do Chile, e outros.
Vale a pena ler o livro. Não como algo sério. Vale para entender como se escreve um ensaio político sectário e inconsistente. O livro tem a pretensão de ser a verdade absoluta. Uma falácia, apesar que para muitos os dois ensaios são a última palavra em política.
O novo livro pode ser também lido como um panfleto neoliberal. Um manifesto partidário com algumas verdades referentes à esquerda latino-americana e muitas omissões em relação à direita.
Um dos principais objetivos foi atingido: vender e ganhar muito dinheiro. Apuleyo Mendoza só deve ter faturado tanto quando lançou em 1982 Cheiro de Goiaba, uma “entrevista-conversa” com Gabriel García Márquez. Como agora, naquela época o livro foi uma jogada oportunista. García Márquez, citado pelo trio como um dos símbolos do idiota latino-americano, havia ganhado o Nobel de Literatura. E Mendoza aproveitou para resolver seu problema orçamentário.
Depois dessa, o melhor é reler O Idiota (1869), de Dostoievski. Essa sim, uma obra prima.
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