Estudo mostra que países com baixos níveis de corrupção, livre acesso à informação e melhor distribuição de renda e recursos conseguem vencer a violência
Muitos são os estudos que comprovam os efeitos devastadores da violência para a população de um país. Aumento dos gastos com saúde, problemas no sistema educacional e queda na produção econômica estão entre esses fatores negativos. Mas também são fartas as pesquisas que comprovam o outro lado dessa difícil equação social. Os países que chegaram a um nível de paz e equilíbrio estão assentados sobre uma base que destaca alto nível de capital humano, baixos níveis de corrupção, livre acesso à informação e melhor distribuição de renda e recursos, só para citar alguns pilares.
Levantamento realizado deste 2007 pelo Instituto para a Economia e a Paz (IEP, na sigla em inglês) – uma instituição independente, com sede em Sydney, na Austrália – mostra de forma objetiva quem está vencendo a batalha pela paz e quem está perdendo. O estudo, condensado em um relatório intitulado Índice Global da Paz, revela que a riqueza de uma nação é importante, mas não é tudo. Alguns dos dez primeiros colocados no ranking não estão entre as economias mais ricas do planeta.
A Islândia é a mais pacífica do planeta, de acordo com o Índice Global da Paz 2017, que acabou ser publicado. Entre os top ten estão nações com realidades bem diferentes e geograficamente distantes, como Nova Zelândia, Portugal, Eslovênia e Canadá (veja ranking abaixo).
E o que fizeram esses países para conquistar um nível de paz e equilíbrio social? A resposta dos pesquisadores está fundamentada em dados do Banco Mundial, das Nações Unidas, ONGs e outras instituições, como universidades: estabilidade política e econômica, ausência de manifestações violentas, baixíssima criminalidade, respeito aos direitos humanos, relações harmoniosas com os vizinhos, além de baixas despesas militares.
Não é por menos que a Islândia, assim como a Nova Zelândia e outros integrantes do top ten, apresentam resultados de fazer inveja aos brasileiros, neste momento afogados em uma das piores crises política e econômica. São nações que oferecem serviços públicos de alta qualidade, confiança ao cidadão, participação nas decisões, estabilidade política e plenas garantias do estado de direito. Nesse rol também estão incluídos um ambiente de negócios sólido, a aceitação dos direitos dos outros, mecanismos eficientes de combate aos desvios de recursos públicos e baixa ameaça de ações terroristas.
O estudo
A pesquisa investiga anualmente 163 países. Para chegar às nações mais pacíficas e mais violentas, são levados em consideração 23 indicadores, divididos em 3 categorias. Os pesquisadores ressaltam que critérios como alto nível de capital humano refletem até que ponto as sociedades educam os cidadãos e promovem o desenvolvimento do conhecimento. No tópico que mais fala diretamente ao Brasil neste momento – níveis de corrupção –, a observação é que, em sociedades com alto nível de desvios, os recursos são ineficientemente alocados, o que afeta os serviços essenciais, eleva as desigualdades e os conflitos, além de corroer a confiança nas instituições.
O esforço de muitos países em busca do equilíbrio, depois de anos de resultados ruins, trouxe pequenas recompensas em 2016. Apesar dos conflitos armados e ataques terroristas, segundo o estudo, o mundo se tornou um local levemente mais pacífico no ano passado, na comparação com 2015.
Dos 163 países, 93 melhoraram seus níveis de paz, enquanto 63 observaram a piora. Entre as regiões do globo, seis estão mais pacíficas que em 2016. Quando se olha para um período maior, no entanto, o mundo ficou mais violento. Nos últimos dez anos, houve deterioração no índice de paz pelo impacto de atos terroristas, com 60% dos países apresentando piores níveis dessa atividade que em 2008.
Top ten
1 Islândia
2 Nova Zelândia
3 Portugal
4 Áustria
5 Dinamarca
6 República Tcheca
7 Eslovênia
8 Canadá
9 Suíça
10 Irlanda
Portugal navega tranquilo
Uma das boas surpresas do Índice Global da Paz 2017 foi Portugal. O país, que há cinco anos estava na 16ª posição entre os mais pacíficos, avançou ano a ano e chegou ao terceiro lugar.
As razões pela conquista da tranquilidade são muitas. Portugal registrou uma recuperação gradual da crise financeira, que resultou numa estabilidade interna no país, menos importação de armas, redução de manifestações violentas, queda na taxa de homicídios.
Integrante da União Europeia, o país não sofreu com os ataques terroristas como ocorreu em alguns de seus vizinhos, como França, Bélgica e Alemanha, e reduziu consideravelmente suas operações militares no exterior, o que ajudou a amenizar os efeitos das restrições orçamentárias.