Imprensa dos EUA questiona relações de Trump com farmacêuticas que pesquisam medicamentos usados em seu tratamento de covid-19.| Foto: Saul Loeb/AFP
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Primeiro foi a hidroxicloroquina, depois o remdesivir e, agora, o coquetel de anticorpos regn-cov2. Em meio à corrida para encontrar medicamentos eficazes no combate ao novo coronavírus, em junho, o presidente dos EUA, Donald Trump, fez campanha em defesa do remédio análogo à cloroquina, fármaco com indicação no tratamento contra malária e doenças reumáticas. Neste mês, após ter sido diagnosticado com covid-19, o líder republicano atribuiu sua rápida recuperação a duas drogas experimentais produzidas pelas farmacêuticas Gilead e Regeneron.

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Em vídeo, Trump prometeu distribuir gratuitamente o coquetel de anticorpos monoclonais regn-cov2 a pacientes com covid-19. "Se você estiver no hospital, e não estiver se sentindo bem, vamos trabalhar para que você receba [o remédio], e receba de graça", afirmou.

Além da fala de Trump, a farmacêutica Regeneron entrou com um pedido na Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) para a aprovação de emergência do regn-cov2 para tratamentode pacientes com covid-19. O coquetel de anticorpos tornou-se uma nova esperança de proteção contra o novo coronavírus. As ações da empresa subiram expressivamente (US$ 19,20 em um único pregão), o que motivou a imprensa norte-americana a questionar as relações do presidente com as empresas fabricantes dos remédios.

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Segundo reportagem do jornal USA Today, Trump relatou anteriormente que obteve ganhos de capital com a Regeneron, fabricante do regn-cov2, e a Gilead Sciences, dona do antiviral remdesivir. De acordo com o jornal, em 2017 Trump teve ganho de capital de US$ 50 mil a US$ 100 mil com a Regeneron e de US$ 100 mil a US$ 1 milhão com a Gilead Sciences.

A farmacêutica Regeneron desenvolve o coquetel de anticorpos regn-cov2, usado no tratamento de Trump.| Foto: Divulgação/Regeneron

As informações, de acordo com a reportagem, são de 15 de abril de 2017. Os formulários de divulgação subsequentes de Trump, incluindo o de 2020, assinado em 31 de julho último, não listam Regeneron ou Gilead.

Segundo o USA Today, não está claro se Trump atualmente tem qualquer participação direta na Regeneron e na Gilead, mas há informações de que ele ainda tem participação em um fundo de uma das principais fabricantes de hidroxicloroquina do mundo. De acordo com o jornal, o formulário de divulgação financeira mais recente de Trump relata investimentos de sua família em um dos fundos da Dodge & Cox. A maior participação do fundo seria na Sanofi, empresa farmacêutica que produz hidroxicloroquina.

A FDA havia autorizado o uso emergencial de hidroxicloroquina para tratar a covid-19, mas suspendeu a autorização após diversos estudos levantarem dúvidas sobre sua eficácia.

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Recursos do governo Trump

A Regeron e a Gilead integram o grupo de empresas que receberam recursos do governo dos EUA para tentar desenvolver medicamentos e vacinas e, com isso, reduzir o tempo de desenvolvimento de cura para a covid-19. A Regeneron, com sede no estado de Nova York, ganhou um contrato federal de US$ 450 milhões em julho, na chamada Operação Warp Speed, para fabricar e fornecer o coquetel de anticorpos regn-cov2.

Trump recebeu uma dose única do coquetel de anticorpos monoclonais da Regeneron como medida de precaução, segundo informou seu médico Sean Conley. O medicamento está em em estágio final nos testes clínicos. Em seu site, a empresa informa que está trabalhando com a Roche para aumentar significativamente o fornecimento global de regn-cov2. “Se aprovado, a Regeneron distribuirá regn-cov2 nos EUA (além do fornecimento inicial do governo dos EUA) e a Roche será responsável pela distribuição fora dos EUA”, diz.

Outro ponto que provocou questionamentos é a amizade entre Trump e o presidente-executivo da Regeron, Leonard Schleifer. Segundo o jornal britânico The Guardian, o executivo é membro do clube de golfe Trump National, em Briarcliff Manor, Nova York, e havia se encontrado com o presidente em maio para falar sobre os medicamentos que sua empresa estava desenvolvendo.

O outro remédio usado no tratamento de Trump, o antiviral remdesivir, foi autorizado para pacientes com covid-19 pela FDA sob declaração de uso de emergência. Os ensaios mostraram eficácia em algumas circunstâncias. O remdesivir recebeu endosso de Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.

Antiviral remdesivir, produzido pela Gilead, começa a faltar na Europa: governo Trump comprou grande parte da produção.| Foto: Divulgação
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Na quinta-feira (08), em relatório publicado no New England Journal of Medicine, pesquisadores confirmaram os benefícios do remdesivir no tratamento de pessoas hospitalizadas em decorrência de covid-19.

Também nesta semana, países europeus anunciaram escassez de remdesivir em meio ao temor de uma segunda onda de casos de casos de covid-19. O governo Trump comprou a maior parte da produção da farmacêutica Gilead. A diretora comercial da farmacêutica, Johanna Mercier, disse que a empresa espera estar em condições, na semana que vem, de atender aos pedidos que chegam da Europa.

Críticas de especialistas

As declarações de Trump em relação ao coquetel de anticorpos da Regeron atraiu críticas de especialistas e pesquisadores, apesar de muitos considerarem que o medicamento pode ter sucesso. Uma das críticas se refere ao fato de o presidente ter usado outros remédios, como dexametasona.

Também há questionamento sobre o custo médio das terapias com anticorpos monoclonais aprovadas nos últimos 20 anos. Alguns levantamentos mostram que um tratamento completo custa, em média, US$ 96 mil (mais de meio milhão de reais, na cotação atual do dólar).  O acordo da Regeneron com o governo dos Estados Unidos prevê o fornecimento de até 300 mil doses para tratamento da covid-19 por US$ 450 milhões, ou US$ 1,5 mil por dose.

O remdesivir também não é barato. A Gilead estabeleceu preço de US$ 520 (quase R$ 3 mil) por dose nos Estados Unidos para pacientes com seguro saúde. O tratamento recomendado utiliza seis doses por cinco dias (duas doses no primeiro dia), totalizando US$ 3.120 (mais de R$ 17 mil).

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