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Da Ásia à Europa, da América do Norte à América do Sul. Companhias aéreas de todo o planeta foram forçadas a aterrissar nas últimas semanas abatidas pela pandemia de coronavírus. Em uma avaliação sobre os impactos da disseminação da covid-19 nas empresas do setor, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) estimou que a perda de receitas somente no setor de transporte de passageiros pode chegar a US$ 113 bilhões. Mas o rombo pode aumentar caso a pandemia aumente.
A queda prevista de receitas representa um quinto do total faturado pelas companhias no ano passado e quatro vezes maior do que o estimado pela IATA em fevereiro, quando se acreditava que o coronavírus poderia ficar restrito ao território chinês.
A reviravolta no setor à velocidade do som, como resultado da covid-19, está sendo considerada sem precedentes pelas empresas. Em pouco mais de dois meses as perspectivas do setor deram uma guinada dramática. O que antes era otimismo e projeções de crescimento, hoje se transformou em risco de paralisação das atividades.
“Muitas companhias aéreas estão reduzindo a capacidade e adotando medidas de emergência para reduzir custos. Os governos devem tomar providências. As companhias aéreas estão fazendo o possível para se manter à tona enquanto executam a tarefa vital de conectar as economias do mundo. Enquanto os governos buscam medidas de estímulo, o setor de transporte aéreo precisará de medidas para isenção de impostos e taxas. São tempos extraordinários ”, declarou Alexandre de Juniac, diretor geral e CEO da IATA.
A redução de voos vem aumentando à medida que ampliam as restrições a viagens, adotadas pelos governos de diversos países, e cresce o medo entre as pessoas de infecção ao passar horas com outras pessoas em espaços fechados, em aeroportos e dentro das aeronaves.
A decisão do presidente dos Estados Unidos, de proibir por 30 dias a maioria dos voos da Europa para a América, atingiu em cheio as grandes companhias americanas. A Delta, por exemplo, anunciou que 40% dos seus voos internacionais foram cortados. Na Europa, o fechamento das fronteiras paralisou grande parte das atividades das empresas. A Lufthansa, maior companhia aérea da Europa, pode deixar de fazer até 90% dos seus voos. A Air France-KLM anunciou que deve cortar cerca de 2 mil empregos para enfrentar a queda de passageiros.
O corte nos serviços não se dá apenas em voos internacionais. Nos Estados Unidos e vários países europeus, assim como ocorreu na China, muitas companhias estão reduzindo as viagens domésticas. Nos EUA, por exemplo, American Airlines, Alaska, Delta e United estão cancelamento bilhetes para voos domésticos e negociando com passageiros mudanças de datas.
Na Austrália, a Qantas anunciou o fechamento de 90% dos voos internacionais e 60% dos voos domésticos. As empresas australianas negociam com o governo o governo apoio financeiro para enfrentar a crise.
No Brasil, aéreas reduzem voos nacionais e internacionais
As três maiores companhias que operam voos domésticos no Brasil anunciaram nos últimos dias ajustes em voos e destinos. Latam, Gol e Azul suspenderam vários voos e paralisaram operações em alguns locais.
A Latam decidiu reduzir sua capacidade em 90% dos voos para o exterior e em 40% das viagens internas (domésticas). “Se as restrições de viagens sem precedentes forem estendidas nos próximos dias, não descartamos sermos forçados a reduzir ainda mais nossas operações”, declarou na segunda-feira o vice-presidente de negócios da Latam, Roberto Alvo.
A Gol informou que no atual cenário será necessário cortar sua capacidade total em cerca de 60% a 70% até junho — nos voos domésticos, a redução será de 50% a 60%, enquanto que no internacional pode chegar a 95%.
A Azul segue o mesmo caminho, com redução de 20% nos voos domésticos e 25% internacional agora em março. Em abril, dependendo da evolução da pandemia, o corte pode chegar 50%.
Socorro do governo
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) apresentou na segunda-feira (16) um rol de medidas ao governo federal para minimizar o impacto econômico sobre o setor e preservar sua viabilidade. De acordo com a entidade, as medidas são necessárias para que as companhias passem pelo momento de crise.
Entre as proposta da Abear estão redução de impostos PIS/Cofins sobre Querosene de Aviação (QAV) e remoção do mesmo sobre venda de passagens aéreas; desoneração da folha de pagamento, preservando empregos; redução das tarifas do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) e Infraero, além da suspensão temporária de pagamentos; restabelecimento da alíquota do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) sobre leasing de aeronaves, motores e peças de 0%; suspensão de PIS/Cofins/Cide em pagamentos feitos no exterior; e linha de crédito para capital de giro.
O governo diz estudar uma série de medidas emergenciais para socorrer o setor. Entre as ações previstas destacam o adiamento do pagamento de tributos e um prazo maior para reembolsar o consumidor por cancelamento de voos. O Planalto estuda ainda criar uma linha de crédito emergencial de capital de giro para fortalecer o caixa dessas companhias, como defende a Abear.