Depois de uma sexta-feira catastrófica para a Petrobras na B3, a previsão de muitos operadores de mercado era que esta segunda-feira (22) seria um terremoto para os papeis da companhia logo na abertura das negociações na bolsa de valores brasileira. O terremoto veio bem mais forte do que o previsto, o que mostra uma reação do mercado mais intensa que as estimativas dos analistas.
Em sondagem feita pela XP Investimentos no domingo (21), cerca de 40% dos gestores, economistas e consultores ouvidos previam que as ações da estatal (PETR3 e PETR4) cairiam pelo menos 10%, enquanto que mais da metade projetavam queda entre 5% e 10%. No auge da queda nesta segunda pela manhã, no entanto, as ações da companhia chegaram a cair em torno de 20%. Outras estatais foram arratadas pelo abalo sísmico. Os papeis do Banco do Brasil (BBAS3), por exemplo, chegaram derreter 10%. O tremor abalou toda a bolsa de valores (B3). O índice Ibovespa (IBOV) sofreu baixa de mais de 5% logo pela manhã.
Outros indicadores financeiros também sofreram forte impacto. O dólar, na máxima do pregão, foi a R$ 5,53. O turismo chegou a R$ 5,68.
O risco-país medido pelo CDS de cinco anos subia 14,28%, a 186 pontos, pela manhã. O CDS funciona como um termômetro da confiança dos investidores em relação às economias dos países. Quando mais alto, maior temor dos investidores com o futuro de um país.
Para os analistas e operadores de mercado, a derrocada das ações da Petrobras, de outras estatais e de vários indicadores financeiros é uma sinalização dos investidores de que eles não gostaram da troca no comando da estatal, anunciada por Bolsonaro na sexta-feira (19) à noite, além do temor de interferências nas políticas da empresa. O presidente demitiu Roberto Castello Branco da presidência da companhia e indicou para o cargo o general da reserva Joaquim Silva e Luna.
No sábado, diante da reação de investidores, o secretário especial de Comunicação Social da Presidência da República, Fabio Wajngarten, saiu em defesa da mudança no comando da Petrobras. Pelo Twitter, disse que que a troca na presidência da empresa é um “ato administrativo corriqueiro”. Previu ainda que “o mercado vai absorver a troca com tranquilidade”.
O estopim da mudança da direção da estatal foi o reajuste de 10,2% no preço da gasolina e 15,1%, do diesel, que entrou em vigor na quinta-feira (18). Foi o quarto reajuste da gasolina e o terceiro do diesel em 2021.
Durante um evento em Sertânia, interior de Pernambuco, na sexta-feira, Bolsonaro já havia confirmado que haveria alterações no comando da Petrobrás. As declarações do presidente fizeram as ações ordinárias da petrolífera despencaram 7,92%, e as preferenciais sofreram um baque de 6,33%.
O namoro do mercado com Bolsonaro vem sendo estremecido desde o ano passado, com a saída de vários membros da equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, e as ameaças de rompimento do teto de gastos. Nos bastidores comenta-se que os próximos dias serão decisivos para saber se haverá ou não um rompimento.
Na tentativa de acalmar o mercado, o general da reserva Joaquim Silva e Luna disse em entrevistas que Bolsonaro não fez nenhum pedido para mexer em preços de combustíveis. Mas deu sinais dúbios ao afirmar que a Petrobras precisa atender o interesse do país e do brasileiro, “que precisa se locomover e abastecer seu veículo”.
O conselho de administração da Petrobras tem reunião marcada para esta terça-feira (23) para avaliar o desempenho financeiro da companhia em 2020. Também estava prevista para a reunião a recondução de Castello Branco para um mandato de mais dois anos à frente da estatal, mas os conselheiros foram surpreendidos com a indicação de Silva e Luna feita por Bolsonaro para o posto.
Embora o estatuto social da Petrobras deixe claro que cabe ao conselho de administração eleger e destituir membros da diretoria e a escolha do presidente (artigos 20 e 30 do estatuto), a previsão é que os conselheiros não deverão se opor à mudança proposta por Bolsonaro na presidência da companhia. Hoje, o conselho possui onze membros, dos quais oito são membros independentes.
Avaliação feita nos bastidores por muitos conselheiros é que uma mudança feita no estatuto da Petrobras em 2018, durante o governo Temer, impede que interferências na política de preços dos combustíveis cause prejuízos à companhia.
O parágrafo 3º do artigo III do estatuto diz que “a Petrobras poderá ter suas atividades, desde que consentâneas com seu objeto social, orientadas pela União de modo a contribuir para o interesse público que justificou a sua criação, visando ao atendimento do objetivo da política energética nacional previsto no art. 1º, inciso V, da Lei nº 9.478, de 6 de agosto de 1997”. Mas o parágrafo 6º do mesmo artigo estabelece que, “nesta hipótese, a União compensará, a cada exercício social, a companhia”.
Após a crise da greve dos caminhoneiros, em 2018, essa regra foi aplicada pelo governo Temer, que garantiu ressarcimento de até R$ 0,30 por litro de diesel a empresas (não só a Petrobras) que se comprometiam a vender o combustível pelo preço tabelado pela União.
Na sexta-feira (19), Bolsonaro sinalizou que haverá alteração na política de preços da estatal. É essa possibilidade que causa temor aos investidores.
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