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A virada do século representou também uma reviravolta no poder aquisitivo dos brasileiros. Em 2001, a renda per capita no país era de apenas US$ 3,16 mil, enquanto que do mundo chegava a US$ 5,43 mil, ou seja, na média, o poder aquisitivo do brasileiro era bem inferior à renda média mundial. Esse quadro se inverteu nos anos seguintes e, em 2011, no auge da expansão, o Brasil atingiu renda per capita de US$ 13,24 mil contra US$ 10,8 mil da média de todos os países.
Ao triplicar a renda per capita nos primeiros anos deste século, os brasileiros tiveram a sensação de que, finalmente, o país deixaria no passado a pobreza. O sentimento era de que entraríamos no patamar de países desenvolvidos em poucos anos. Para atingir uma renda média de US$ 20 mil seriam poucos anos, na visão dos mais otimistas, mas as projeções foram todas fracassadas.
A partir de 2015, o país passou a regredir rapidamente. Em 2016, por exemplo, enquanto a renda per capita da média mundial marcou US$ 10,29 mil, a do Brasil desabou para R$ 8,71 mil. Desde então, nunca mais recuperou a faixa de dois dígitos (US$ 10 mil). E o pior ainda estava por vir: com a pandemia de Covid-19, o PIB per capita dos brasileiros baixou a US$ 6,81 mil.
Com o controle da pandemia, em 2021, o país recuperou uma pequena parte do que havia perdido, mas terminou o ano com renda per capita de apenas US$ 7,21 mil. Esse valor é 43% menor que o registrado em 2011, isto é, em poucos anos os brasileiros viram seu poder aquisitivo cair quase pela metade.
A queda da renda per capita dos brasileiros destoa da média mundial no período analisado. Em 2014, o PIB per capital mundial chegou a US$ 10,97 mil, caiu em 2015, mas voltou a se recuperar nos anos seguintes, até sofrer o tombo provocado pela pandemia de Covid-19. Mesmo nos momentos de crise, a média do PIB per capital mundial não pontuou abaixo de dois dígitos, isto é, permaneceu acima dos US$ 10 mil. Com a recuperação de 2021, chegou ao auge de US$ 12,26 mil, muito superior ao do Brasil.
O PIB per capital é um termômetro para avaliar o nível de renda da população. Renda mais alta se traduz em mais bem-estar, mas isso depende do nível de desigualdades sociais de um país. Dois países com renda per capita semelhantes, por exemplo, podem ter níveis de bem-estar da população diferentes, considerando as desigualdades sociais, o acesso a serviços públicos de qualidade e a forma de distribuição das riquezas para todas as pessoas (quanto maior a concentração de renda, menor o bem-estar geral).
Estudo do Instituto Brasileiro de Economia (FGV IBRE), mostra que o Brasil precisaria crescer a um ritmo de pelo 3% ao ano até 2026 para voltar aos patamares do PIB de antes da forte recessão de 2015 e 2016. Como a evolução do PIB per capita depende do crescimento populacional, nesse cenário, só em 2029 os brasileiros conseguiriam recuperar o nível de renda registrado em 2011.
Os resultados da economia no primeiro semestre deste ano apontam que em 2022 e 2023 o país continuará patinando. A melhora nos últimos meses trouxe um pouco de fôlego, mas as projeções mais otimistas indicam crescimento pífio. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgou, no dia 30/06, a Visão Geral da Conjuntura, análise trimestral da economia brasileira, com previsão de crescimento de 1,8% para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2022. Essa alta é insuficiente para provocar grande impacto na renda per capita, que depende do crescimento populacional do país.
Em 10 anos, a renda per capita do brasileiro caiu 43%. Pelas estimativas do IBGE, a população brasileira vai crescer em torno de 0,7% em 2022. Isso significa que um crescimento econômico de pouco mais de 1% teria efeito praticamente nulo na renda per capita.