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Em clima de lançamento de candidato à Presidência da República, o Podemos filiou o ex-juiz federal e ex-ministro Sergio Moro aos seus quadros nesta quarta-feira (10), em Brasília. Apesar do nome do partido ser igual ao da legenda Podemos, da Espanha, existem diferenças históricas e ideológicas entre as duas siglas.
Olhando os programas de cada um dos partidos, são quase inexistentes as semelhanças. Há uma pequena aproximação das duas legendas quanto à democracia direita (maior protagonismo das pessoas nas decisões do país), mas também neste ponto há divergências sobre as vias de participação popular a seguir.
Além da Espanha e do Brasil, outros países latino-americanos também registraram formações políticas com o nome ‘Podemos’ nos últimos anos. Na Venezuela, por exemplo, o Podemos surgiu como um partido social-democrata. Em um primeiro momento apoiou o governo Chávez, depois passou para a oposição e, atualmente, é aliado do governo de Nicolás Maduro.
O Podemos, do líder espanhol Pablo Iglesias, é definido como um movimento de esquerda – para alguns meios de comunicação é uma sigla de extrema esquerda. Já o Podemos de Moro se define como centro, apesar de ser caracterizado como centro-direita por muitos veículos de comunicação.
O Podemos da Espanha foi fundado primeiro que o brasileiro, em 2014, e provocou um “terremoto político” no país, se transformando rapidamente em uma das principais forças políticas espanholas. Formado inicialmente por intelectuais, personalidades da cultura, do jornalismo e ativistas sociais, a agremiação tem suas origens no partido Izquierda Anticapitalista (Esquerda Anticapitalista).
Uma das bandeiras da sigla espanhola é a aplicação plena de um artigo da constituição (128), que estabelece que “toda a riqueza do país, nas suas distintas formas e seja qual for a sua titularidade, está subordinada ao interesse geral”. O Podemos espanhol é identificado com os jovens, com movimentos ambientalistas, ativismo social, com a luta contra a desigualdade e em favor diversidade e da ação cidadã. Sua inserção, em grande parte, se dá por meio das novas tecnologias de informação, dialogando com as novas gerações, especialmente nas redes sociais.
O Podemos que lançou simbolicamente Moro à Presidência para medir força com o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Lula nas eleições de 2022 tem origem no Partido Trabalhista Nacional (PTN), um dos mais antigos do Brasil. O PTN foi fundado em 1945, a partir de uma dissidência do PTB, de Getúlio Vargas, e conseguiu eleger Jânio Quadros presidente da República, em 1960.
Extinto pela ditadura militar em 1965, o PTN foi refundado em 1995 e teve em suas fileiras nomes como o do ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
A mudança de nome para Podemos veio em 2017, sob a liderança da deputada Renata Abreu. A família Abreu (José Masci de Abreu e Dorival de Abreu) comandou o PTN desde a refundação e, atualmente, Renata é a presidente da sigla. Ela descarta ter se inspirado no Podemos espanhol. A inspiração para o nome do partido teria sido o slogan da campanha de Barack Obama à presidência dos EUA, "sim, nós podemos" (yes, we can).
Com a nova roupagem, o Podemos rapidamente conquistou nomes importantes no Senado, como Alvaro Dias (PR), que foi candidato à Presidência da República em 2018, Romário (RJ) e José Medeiros (MT). Continuou crescendo e chegou à terceira maior bancada do Senado, com 9 senadores. Agora tem o terceiro colocado nas pesquisas para o Palácio do Planalto em 2022.
Apesar de suas velhas raízes na política brasileira, e com vários nomes próximos à aposentadoria política, o Podemos se apresenta como novo. Em seu estatuto, faz duras críticas à polarização direita x esquerda e conservadores x progressistas.
Se propõe a ser o partido do caminho do meio. Defende o capitalismo e o livre mercado, mas com preocupação social e com o meio ambiente. Por meio da participação direita das pessoas em grandes decisões, o Podemos substituiu ‘bandeiras’ por causas sociais. “Anticorrupção, defesa animal e ambiental, reforma agrária, reforma urbana, meios alternativos de transporte, expressões culturais de periferia, feminismo, movimentos gays, conscientização para apoio aos imigrantes”, são algumas das causas citadas pelo partido.