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Polarização Lula-Bolsonaro desafia consolidação da terceira via
| Foto: Isac Nóbrega/PR e Ricardo Stuckert

O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), previu um prazo para que a chamada terceira via defina um nome único para concorrer à Presidência da República em 2022: novembro. O cenário de polarização crescente entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o ex-presidente Lula (PT) coloca pressão sobre o ‘centro’, mas a probabilidade de acordo em torno de um nome de consenso fica menor a cada dia.

Ao mesmo tempo em que as pesquisas registram Lula e Bolsonaro descolados na liderança de intenção de voto, o centro se pulveriza em diversos pretendentes. No grupo formado por Eduardo Leite (PSDB-RS), João Doria (PSDB-SP), Luiz Henrique Mandetta (DEM), João Amoedo (Novo), Luciano Huck (sem partido), Ciro Gomes (PDT) e, nos últimos dias, Tasso Jereissati (PSDB), cada um trabalha pelo seu nome.

A história das últimas eleições mostra, por exemplo, que as possibilidades de Ciro Gomes abrir mão da candidatura a presidente para ser vice ou ficar de fora da disputa em prol de outro nome são quase zero. Da mesma forma, toda a articulação feita até agora evidencia que o PSDB terá candidato próprio e não será coadjuvante de outro partido, apesar da dificuldade visível hoje de encontrar um nome que possa unir a legenda. Além de Eduardo Leite e Doria, o senador Jereissati entrou na disputa.

Polarização Lula-Bolsonaro
Huck, Doria, Moro, Ciro e Tasso: sob pressão para definir um nome, centro se pulveriza; e diferenças dificultam consenso.| Fotos Públicas/Agência Brasil/Facebook

O ex-juiz Sérgio Moro, que até pouco tempo atrás aparecia como um nome competitivo em qualquer cenário, viu sua popularidade cair após e demissão do governo e, principalmente, depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) o declarou suspeito no processo contra Lula envolvendo o tríplex do Guarujá. Moro atualmente é um dos presidenciáveis que aparecem com reduzidíssimas possibilidades de aglutinar o centro.

O xadrez político havia mudado antes mesmo da decisão do plenário do STF. A reviravolta começou em 8 de março, quando o ministro Edson Fachin anulou todas as condenações de Lula pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato.

Com seus direitos políticos restabelecidos, o ex-presidente rapidamente foi colocado no centro da disputa presidencial de 2022. Em seguida, a posição foi reforçada com a decisão da Segunda Turma do STF, que considerou Moro suspeito no julgamento do petista. Dias depois, a suspeição foi mantida pelo plenário do Tribunal.

Para ter sucesso em 2002, os nomes da terceira via fazem duas apostas com poucas chances de se tornarem realidade.

Uma delas é a intensificação da queda de popularidade de Bolsonaro. O presidente vem perdendo apoio continuadamente, mas a tese de ‘derretimento’ da candidatura de Bolsonaro só viria com o agravamento ainda maior da pandemia e dos indicadores econômicos.

A Covid-19 chegou a níveis recordes no país e a economia vai mal, com alta da inflação e desemprego, mas Bolsonaro mantém um nível de apoio que o colocaria no segundo turno caso as eleições fossem hoje, segundo mostram todas as sondagens de intenção de voto. Bolsonaristas avaliam que pior do que está hoje não fica (o agravamento da crise colocaria em risco também o mandato do presidente).

Com a vinda de mais vacinas e o aumento da imunização, são maiores as chances de a pandemia ser controlada. Com a doença sob controle, a recuperação das atividades econômicas viria, mesmo que em taxas modestas, no momento crucial da disputa em 2022. Esse cenário garantiria Bolsonaro no páreo.

A outra aposta dos concorrentes do centro é que Lula não esteja na disputa. A conjuntura política e as condições jurídicas envolvendo o ex-presidente indicam que, embora a ausência não esteja descartada, a candidatura Lula é quase certa. O petista não estaria na corrida presidencial somente por impedimento judicial, o que dificilmente ocorrerá.

As últimas decisões no âmbito do STF, além de abrirem as portas para Lula tentar um terceiro mandato, reforçam no senso popular a ideia de que o ex-presidente foi injustiçado. Com a tese de inocência referendada judicialmente e a aura dos resultados sociais e econômicos registrados por seu governo, Lula reúne as condições para garantir lugar no segundo turno, na pior das hipóteses.

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